"O Auto da Compadecida 2" não é pra ser comparado com o 1, de 1/4 de século atrás.
É um drama/comédia que se explica por si mesmo: vozes céleres, como do povo no alarido da feira. Tristeza e alegria, realidade e fantasia no ritmo frenético de "uma gente que ri quando deve chorar". Ri várias vezes e chorei no final: cinema é pra isso!
Guel Arraes e Flávia Lacerda botaram o Brasil/Taperoá na telona, inspirados no paraibano cristão do mundo, mais Suassuna (1927-2014) que ariano, amante do jeito mestiço e criativo de sua gente.
Gente que tem "força, garra, gana sempre". E esperteza, "a coragem do pobre" - ensina Nossa Senhora Thaís Aparecida e Compadecida, juíza justa (existem!).
Esse "Auto" é um louvor à amizade: "amigo é coisa pra se guardar"...
João "Nachtergaele" Grilo e Chicó "Selton" são corda e caçamba, forró e samba, completude, parceria, geniais interpretações.
E tem o amor, esse intrometido, que desarranja o estabelecido: "como vai você/que já modificou a minha vida"...
E tem os politicões tão enganadores como dominantes, o coronel Ernani dono de gado e gente, e o Arlindo comerciante, malandro e tratante. Querem o poder não para servir, mas para se servir (já viu isso, né?).
O central está no final, no juízo final - que todos teremos e esperamos, com temor ou serenidade.
Deus e o diabo dentro de João Grilo, dentro de nós. Céu ou inferno, que o purgatório é insosso, sem graça, "neutro".
Tudo que João não foi, com seu olhar vesgo, enviezado, amoroso. Que não dá bola pro julgamento dos outros, mas pro de Deus. Pudera, com a baita advogada que tinha...
João, amigo da morte por amar demais a vida. Caixão, enterro, e ressurreição, estrada prosseguida, com a cumplicidade do companheiro - o (e)terno abraço, o cisco nos olhos. Os dois lados da mesma viagem.
Quero viver isso, quero ver de novo o filme. Quero comparecer a um juízo onde a Medianeira se compadeça de mim. Quem não?
Imagens: Divulgação
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