Foi realizada na tarde/noite dessa quinta-feira, 26 de dezembro, em clima de fratelli tutti (todos irmãos) e de natal a segunda e última sessão do Cine Realidade 2024 no Lar de Idosos SAME.
O filme exibido foi o baile do menino Deus, baseado no espetáculo do mesmo nome, o qual é apresentado desde 1983 até os dias de hoje na cidade do Recife com crescente acolhida e repercussão.
Algumas senhoras residente no SAME ficaram bastante animadas e outras nem tanto, mas compreendemos tratar-se de características individuais e de questões que tem a ver com o histórico de vida.
O filme por trazer referências da cultura popular do nordeste, assim como o que é próprio de Pernambuco aciona memórias afetivas, principalmente de quem viveu no interior antes de vir residir no lar dos idosos.
A respeito da afirmação que trago acima constatei, entre outras reações de contentamento, uma senhora que bateu palmas em alguns momentos do filme e que respondia “Ô de fora” na hora em que os dois mateus tentavam ser recebidos na casa onde encontravam-se José, Maria e Jesus para realizarem o baile em homenagem ao menino Deus. E com esse intuíto os mateus gritavam “Ô de casa”.
Essa senhora me emocionou em dois momentos, pelo agradecimento por proporcionarmos aquele momento e por dizer que se fosse na casa dela ,nos ofereceria, a mim e a Maíra um delicioso bolo, além de doces e sucos. Já outra ao lado, também me deixou muito feliz quando disse ser o melhor momento que ela teve este ano, e que eu poderia visitá-la na casa dela, onde ela nos ofereceria uma galinha gorda e ainda me propôs levar o violão. Na verdade foram duas senhoras que disseram sentir não poder me servir um bolo, sucos e doces.
A presença da Maíra foi muito importante por ser uma jovem mulher e pela atenção e cuidado que teve para com as residentes do Same presentes a sessão, relembrando no caso dela a experiência de cuidado que teve com a avó, quando viveu com esta desde tenra idade até o início da juventude.
Percebi nas mais comunicativas uma força de fé e de gratidão, me agradecendo e me abençoando repetidas vezes.
Acerca da experiência que teve, Maíra escreveu: “Hoje a experiência foi muito gratificante pois o filme acessou a memória de algumas senhoras, que faz muito tempo provavelmente não falam do lugar em que nasceram e de alguns momentos das suas vidas, acho que poder compartilhar lembranças de outros tempos e lugares com pessoas de fora, faz bem a elas, dentro do contexto atual em que vivem.
Os personagens do filme com as danças, cantigas, brincadeiras, figurinos, instrumentos musicais e etc., junto com a nossa presença, trouxeram um gostinho de casa e uma saudade também, pois como visitas dentro do lar que elas construíram, seríamos tratados com mais atenção por elas, disseram as que se comunicavam mais”.
Zezito de Oliveira - Editor do blog da cultura, educador e produtor cultural.
Maíra Ramos - Atua no ramo de clinica de saúde e estética, na produção de fotografia e audiovisual e é coordenadora geral da Ação Cultural.
Todas as fotos nessa postagem é da autoria de Maíra Ramos
O Cine Realidade 2024 em clima de Fratelli Tutti e Laudato Si (Louvado Seja), duas enciclicas do Papa Francisco, realizou oito sessões, sendo seis sessões na Igreja São Pedro Pescador e duas sessões no Lar de Idosos Same, localizados no bairro Industrial.
O público do Cine Realidade na Igreja São Pedro Pescador é formado por uma maioria de adolescentes e jovens, já no Same, a quase totalidade é formada por idosas, com exceção de um homem da mesma faixa de idade que faz o papel de agente cultural parceiro do cineclube e de outras atividades culturais realizadas no Same , sendo a pessoa que nos deu a ideia de ampliarmos as ações do Cine Realidade
Papa Francisco e os idosos
“Assim hoje a Palavra de Deus é um apelo a vigilar para que, nas nossas vidas e famílias, não marginalizemos os mais velhos. Estejamos atentos para que as nossas cidades superlotadas não se tornem 'concentrados de solidão'. [...] Por favor, misturemo-nos, cresçamos juntos.”
A solidão e o descarte tornaram-se elementos frequentes no contexto em que estamos imersos. Têm múltiplas raízes: nalguns casos, são o resultado duma exclusão planejada, uma espécie de triste «conjura social»; noutros, trata-se infelizmente duma decisão própria; noutros ainda, suportam-se fingindo que se trata duma opção autónoma. Cada vez mais «perdemos o gosto da fraternidade» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 33) e sentimos dificuldade até para imaginar algo diferente.
"A amizade de uma pessoa idosa, sublinha Francisco na sua mensagem por ocasião do III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, "ajuda o jovem a não aplanar a vida no presente e a recordar que nem tudo depende de suas capacidades. Já para os idosos, a presença de um jovem abre a esperança de que o que eles viveram não seja perdido e que seus sonhos se tornem realidade".
"Palavras com as quais o Papa convida novas e velhas gerações a se aproximarem e que nos levam a refletir sobre as relações entre jovens e velhos", explica ao à Rádio Vaticana-Vatican News, Vittorio Scelzo do Departamento para idosos, crianças e pessoas com deficiência do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
O Dia Mundial dos Avós e Idosos deste ano nos chama a cultivar laços entre as diferentes gerações. Como é possível hoje aproximar os mais jovens e os menos jovens?
Há uma grande emergência de solidão dos idosos. O Papa Francisco delineou na Fratelli tutti a ideia de uma sociedade solidária, na qual os laços são fortes, laços de fraternidade. Por isso, é necessário e importante que também sejam forjados vínculos entre as gerações, que parecem seguir seu próprio caminho. Jovens desorientados - quanta desorientação vemos no mundo juvenil, principalmente depois da pandemia - e idosos abandonados. Em vez disso, existe a possibilidade de fazer com que jovens e idosos se encontrem e refaçam um tecido social de fraternidade.
Que frutos podem surgir do encontro entre jovens e idosos?
O fruto que pode surgir do encontro entre jovens e idosos é sobretudo o de uma sociedade menos desgastada. Então, especialmente para os jovens, acho que existe o problema de entender para que os idosos viveram, para que os idosos gastaram suas vidas. Neste momento, de modo particular, o tema da paz é urgente. Na Europa somos filhos de gerações que construíram a paz e existe uma correspondência terrível entre o desaparecimento de testemunhas de guerra na Europa e o ressurgimento da guerra no continente. Portanto, para os jovens é necessário testemunhar este sonho de paz que os idosos viveram, construíram e realizaram na Europa, porque o sonho de paz dos idosos europeus foi realizado e foi adiante por 80 anos; agora os jovens têm que pegar o bastão. O fruto para os idosos é vencer a solidão, porque não podemos aceitar a solidão dos idosos da forma que temos visto nos últimos anos.
Na sua mensagem para o terceiro Dia dos Avós e Idosos, o Papa explica que o projeto de amor de Deus abraça e une gerações. Em tudo isso, o que podem os jovens aprender com os idosos e vice-versa?
Deve-se aprender que o amor de Deus se estende de geração em geração. Se olharmos para o cenário mundial, se olharmos para o que está acontecendo, se olharmos para estes anos marcados pela pandemia, agora pelo ressurgimento da guerra, que o Papa chama de “guerra mundial fragmentada”, haveria motivos para desanimar. O fato de o amor de Deus se estender de geração em geração e, portanto, este o passar o bastão dos idosos aos jovens é a ideia de que a história é guiada por Deus e que Deus não abandona o mundo à sua sorte e que de alguma forma guia, protege os homens e que em todo o caso o destino do homem é protegido pelo amor de Deus, pela sua misericórdia que, temos a certeza, dará frutos.
Sobre o SAME
O SAME foi constituído sob a inspiração, orientação e cuidados da Arquidiocese de Aracaju, entidade da Igreja Católica, com base nos ensinamentos cristãos, e sob esses ensinamentos e carisma são norteadas todas as suas finalidades e atividades. Fundado em 12 de agosto de 1949 por Dom Fernando Gomes dos Santos, então Bispo da Diocese de Aracaju.
Seu objetivo primeiro foi amparar os mendigos que viviam nas praças e ruas da nossa cidade, daí o seu nome: Serviço de Assistência à Mendicância – SAME.
Sobre a Ação Cultural
A Ação Cultural é uma organização da sociedade civil pioneira em Sergipe no trabalho com dança moderna, audiovisual, teatro, cineclube e hip-hop, junto e misturado, voltado principalmente às crianças e adolescentes e jovens residentes na periferia de Aracaju e Região Metropolitana. Foi criada no ano de 2004 por artistas e produtores culturais emergentes, além de educadores envolvidos com atividades de ação cultural. Se organiza buscando empoderar agentes e grupos culturais que atuam na periferia realizando de forma colaborativa reuniões, pesquisas de diagnóstico, oficinas de elaboração de projetos, produção de artigos/release, divulgação on-line, organização de portfólios, promoção de fóruns de debates, oficinas e mostras artísticas.
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