Leornardo Boff
21/02/2015
Geralmente o processo educativo da sociedade com suas
instituições como a rede de escolas e de universidades estão sempre
atrasadas em relação às mudanças que acontecem. Não antecipam eventuais
processos e custam-lhes fazer as mudanças necessárias para estar à
altura deles.
Entre outras, duas são as grandes mudanças que estão ocorrendo na
Terra: a introdução da comunicação global via internet e redes sociais e
a grande crise ecológica que põe em risco o sistema-vida e o
sistema-Terra. Podemos eventualmente desaparecer da face da Terra. Para
impedir esse apocalipse a educação deve ser outra, diversa daquela que
dominou até agora.
Não basta o conhecimento. Precisamos de consciência: uma nova mente e
um novo coração. Precisamos também de uma nova prática. Urge nos
reiventar como humanos, no sentido de inaugurar uma nova forma de
habitar o planeta com outro tipo de civilização. Como dizia muito bem
Hannah Arendt:”podemos nos informar a vida ainteira sem nunca nos
educar”. Hoje temos que nos reeducar e no reinventar como humanos.
Por isso, acrescento às dimensões acima referidas, estas duas: aprender a cuidar e aprender a se espiritualizar.
Mas antes faz-se mister, previamente, resgatar a inteligência cordial, sensível ou emocional. Sem ela, falar do cuidado e da espiritualidade faz pouco sentido. A causa reside no fato de que todo sistema moderno de ensino se funda na razão intelectual, intrumental e analítica. Ela é uma forma de conhecer e de dominar a realidadade, fazendo-a mero objeto. Sob o pretexto de que a razão sensível impediria a objetividade do conhecimento, foi recalcada. Com isso surgiu uma visão fria do mundo. Ocorreu uma espécie de lobotomia que nos impede de nos sentir parte da natureza e de perceber a dor os outros.
Sabemos que a razão intelectual, como a temos hoje, é recente, possui
cerca de 200 mil anos quando surgiu o homo sapiens com seu cérebro
neo-cortical. Mas antes dele, surgiu há cerca de 200 milhões de anos, o
cérebro límbico, por ocasião da emergência dos mamíferos. Com eles,
entrou no mundo o amor,o cuidado, o sentimento que se devotam à cria.
Nós humanos, esquecemos que somos mamíferos inteletuais. Logo, somos
fundamentalmente portadores de emoções, paixões e afetos. No cérebro
límbico reside o nicho da ética, dos sentimentos oceânicos como os
religiosos.
Antes ainda há 300 milhões de anos, irropeu o cérebro
reptilínio que responde por nossos reaçõs instintivas; mas não é o caso
de abordá-lo aqui.
O que importa é que hoje temos que enriquecer nossa razão intelectual
com a razão cordial, muito mais ancestral, se quisermos fazer valer o
cuidado e a espiritualidade.
Sem essas duas dimensões não iremos nos mobilizar para cuidar da
Terra, da água, do clima, das relações inclusivas. Precisamos cuidar de
tudo, sem o que as coisas se deterioram e perecem. E então iríamos
encontro de um cenário dramático.
Outra tarefa é resgatar a dimensão da espiritualidade. Ela não deve
ser identificada com a religião. Ela subjaz à religião porque é anterior
a ela. A espiritualidade é uma dimensão inerente ao ser humano como a
razão, a vontade e sexualidade. É o lado do profundo, de onde emergem as
questões do sentido termnal da vida e do mundo.
Infelizmente estas questões foram tidas como algo privado e sem
grande valor. Mas sem sua incorporação, a vida perde irradiação e
alegria. Mas há um dado novo: os neurólogos concluiram que sempre que o
ser humano aborda estas questões do sentido, do sagrado e de Deus, há
uma aceleração sensível nos neurônios do lobo frontal. Chamaram a isso
“ponto Deus” no cérebro, uma espécie de órgão interior pelo qual captmos
a Presença de uma Energia poderosa e amorosa que liga e re-liga todas
as coisas.
Avivar esse “ponto Deus” nos faz mais solidários, amorosos e
cuidadosos. Ele se opõe ao consumismo e materialismo de nossa cultura.
Todos, especialmente os que estão na escola, devem ser iniciados nessa
espiritualdidade, pois nos torna mais sensíveis aos outros, mais ligados
à mãe Terra, à natureza e ao cuidado, valores sem os quais não
garantiremos um futuro bom para nós.
Inteligência cordial e espiritualidade são as exigências mais urgentes que a a tual situação ameaçadora nos faz.
Leonardo Boff é colunista do JBonline e escreveu Saber cuidar, Vozes 2000 e O cuidado necessário e Vozes 2013.
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