quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Músicas de luta e resistência. Sarau Multicultural alusivo a ditadura civil-militar (1964-1985)



Opinião

Zé Kéti/Nara Leão

Carcará

João do Vale/Maria Bethânia

Disparada
 Gravação original - Jair Rodrigues
Compositor: Compositores: Geraldo Vandré e Théo de Barros
________________________________________
Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora de lugar, eu vivo prá consertar
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu, ou de que comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um Rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não pude seguir, valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar, não posso me desculpar
Não canto prá enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui Rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui Rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu,
Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei.
Laiá laiá laiá laiá laiá lá laiá


Viola Enluarada

Alegria, Alegria

Caetano Veloso

Soy loco por ti américa

Caetano Veloso 
 Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones- Interpretação:Engenheiros do Hawaii

Pra não dizer que não falei das flores

Geraldo Vandré
 Interpretação de Simone



Roda Viva

Chico Buarque

Aquele Abraço

Gilberto Gil

Canção da Despedida

Geraldo Vandré/Geraldo Azevedo/Elba Ramalho

Hoje

Taiguara

Apesar de Você

Chico Buarque

Debaixo dos caracóis de seus cabelos

Roberto Carlos

Nada será como antes

Milton Nascimento

Cálice

Chico Buarque

Ouro de Tolo

Raul Seixas

Uma vida só (pare de tomar a pílula)

Odair José

Meu caro amigo

Chico Buarque

Credo

Milton Nascimento

Clube da Esquina nº 2

Milton Nascimento

Maria, Maria

Milton Nascimento

Admirável gado novo

Zé Ramalho

Menestrel das Alagoas

Milton Nascimento

Que país é este

Legião Urbana

Geração Coca Cola

Legião Urbana

Faroeste Caboclo

Legião Urbana

Coração Civil

Milton Nascimento

Saga da Amazônia

Vital Farias

Pro dia nascer feliz

Cazuza

Coração de Estudante

Milton Nascimento

Vai passar

Chico Buarque



Divino Maravilhoso

Gal Costa

Eu quero é botar o meu bloco na rua

Sérgio Sampaio

A palo seco

Belchior

Apenas um rapaz latino americano

Belchior

Alvorada Voraz

RPM

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

CHICO BUARQUE PARA ESTUDANTES


Músicas de Chico Buarque ajudam a estudar o período da ditadura


As canções de Chico Buarque podem ajudar os estudantes a compreender o período da ditadura militar no Brasil.
Via Portal Terra
Neste ano, faz quatro décadas do lançamento do disco Construção, de Chico Buarque. Em meio a um dos períodos mais duros do regime militar, o álbum ficou famoso por consolidar a posição crítica do compositor, seja com músicas claramente referentes à repressão daqueles anos, como Cordão, ou outras com associações mais implícitas, como Cotidiano.
Segundo o professor de Literatura da unidade Tamandaré do Anglo, Fernando Marcílio, antes deste quinto disco, o autor já vinha manifestando suas preferências políticas e incomodando a censura. “O mais importante é destacar que as canções de Chico vão além da questão da ditadura. Mesmo aquelas letras que se referem explicitamente ao regime militar”, diz o mestre em Teoria Literária, cuja dissertação analisou a obra do artista.
Nessa linha, as letras daquela época podem ser facilmente transpostas para a atualidade. “Elas captam o essencial da ditadura, a repressão, e devem ser usadas para compreender não só aquele episódio, mas as relações humanas. Eu posso ser opressor com minha esposa, seu chefe pode ser com você, assim como muitas pessoas o são com os homossexuais”, cita. Para o professor, Chico Buarque não deve ser reduzido à imagem de “cantor da ditadura”. “Já ouvi dizer que, se não fosse a ditadura, Chico não teria inspiração, que teria sido bom para ele. Longe disso, a censura o impediu de trabalhar muitas vezes”, comenta.
Mesmo ainda atuais, as músicas e peças de teatro do autor carioca podem ajudar estudantes a entender melhor o que significou o período que sucedeu o golpe de 64. A seguir, conheça mais sobre o contexto de dez obras de Chico Buarque.
Apesar de você
Para o professor, a mais evidentemente canção de Chico Buarque referente à ditadura é Apesar de você. Lançada inicialmente em 1970, em um compacto, foi censurada logo depois. Entendida inicialmente como uma canção de amor, como se um dos amantes tivesse abandonado o outro (“Apesar de você / Amanhã a de ser outro dia”), na realidade, a letra falava da ideia de um novo amanhã, que superasse os dias escuros da ditadura (“A minha gente hoje anda / Falando de lado / E olhando pro chão, viu / Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão”).
A música marca o momento em que a censura começa a ficar mais atenta à obra de Chico. “Esta letra tem uma dimensão utópica, sentimento que aparece em outras canções do autor”, explica o professor. Em 1978, no álbum Chico Buarque, a música, já liberada, foi lançada outra vez. “Chico a relançou meio a contragosto. Estava preocupado que fosse passada a imagem de que estava tudo bem, o que não era verdade. Além de não fazer mais sentido lançar uma música fora do contexto em que foi escrita”, observa.
Cálice
Mais uma música censurada. Mas, diferentemente de Apesar de você, Cálice foi proibida antes de ser lançada. Composta em 1973, ao ser submetida à censura federal, pela qual deviam passar todas as letras, livros e textos e montagens de teatro, foi barrada e só pode ser divulgada em 1978, também no álbum Chico Buarque. “Gilberto Gil teve a ideia de usar a passagem bíblica, mas foi Chico quem percebeu que a sonoridade que se igualava à expressão ‘cale-se’, uma referência clara à censura da época”, conta Marcílio.
O fato de submeter toda produção artística à censura representava, no caso das obras barradas, um investimento jogado fora, especialmente para peças de teatro, que tinham que apresentar suas montagens completas a um homem do governo.
Construção e Cotidiano
Essas duas canções fazem parte do álbum Construção, de 1971, e suas letras tem referências menos diretas à ditadura militar. A primeira conta a história de um trabalhador da construção civil que morre no local onde trabalhava. “A situação desse trabalhador é de angústia, ele é oprimido pela ditadura econômica, que também assolava o país na época”, explica o professor.
Na segunda, diz Marcílio, “a letra descreve o dia a dia de um casal, em uma referência implícita à repressão do governo, à medida que mostra um cotidiano opressivo”.
Cordão e Quando o Carnaval chegar
Cordão é uma canção do disco Construção com referência clara à ditadura, especialmente em versos como “Ninguém vai me segurar / Ninguém há de me fechar”. Assim como Apesar de você, tem o caráter otimista de um futuro melhor. “Nesta música, Chico prega a resistência, por intermédio da união, do ‘imenso cordão’ que ele cita na letra”, observa o professor. O mesmo anseio por dias melhores aparece em Quando o Carnaval chegar, música trilha do filme homônimo em que Chico atua. “Aqui também há referência a esse dia de amanhã, um dia em que a liberdade seria restaurada e triunfaria”, diz o professor.
Deus lhe pague
Em Deus lhe Pague, também do álbum Construção, Chico se vale da ironia para criticar a situação repressiva em que os brasileiros viviam durante o regime militar. É como se ele agradecesse ao governo por permitir ao cidadão realizar atos básicos, como respirar. “Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir / A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir / Por me deixar respirar, por me deixar existir / Deus lhe pague” são alguns dos versos.
O heteronômio Julinho de Adelaide
Já conhecido da censura, Chico Buarque tinha suas músicas proibidas só por levarem sua assinatura. Para driblar isso, ele criou um personagem, Julinho Adelaide, que assinou três músicas suas. Em Acorda amor, um sujeito acorda no meio da noite e pede para sua mulher chamar o ladrão porque a polícia tinha chegado. “Ele inverte a situação, porque o perigo naquela época era a polícia entrar em sua casa e lhe prender”, explica o professor de Literatura, também historiador. Trata-se de mais uma manifestação da ditadura, a perseguição policial.
Em Jorge Maravilha, há referência a situações que, segundo o professor, não se sabe se são verdadeiras ou não. Os versos “você não gosta de mim, mas sua filha gosta” teriam origem em uma das vezes em que Chico foi preso e o policial teria pedido autógrafo, dizendo que era para a sua filha. “Tem também a história de que a filha do então presidente Ernesto Geisel teria declarado ser apreciadora de Chico. Não sei dizer se é verdade, acho que a questão é mais simbólica, como quem diz ‘você, governo, não gosta de mim, mas o povo gosta’”, opina.
Calabar: O elogio da traição
Esta peça de teatro de autoria de Chico e Ruy Guerra foi proibida pela censura. O título cita um personagem histórico que existiu durante o Brasil Imperial e que ficou tachado como traidor por ter se oposto à coroa portuguesa. “O personagem nem aparece na peça, que acaba girando em torno de opções ideológicas e discutindo o que é ser patriota por meio do questionamento desta traição. Calabar só poderia ser considerado traidor sob o ponto de vista de Portugal, que era, por sua vez, um invasor. Ou seja, trair um invasor não seria um problema, assim como trair um governo que é opressor”, compara o professor.
Na época, os jornais não podiam nem noticiar a censura da peça. As músicas da trilha liberadas foram lançadas em um álbum chamado Chico canta. Era pra ser Chico canta Calabar, mas o nome do personagem histórico também havia sido proibido.

Resenha do Livro: Chico Buarque na sala de aula 

fonte:  http://poematisando.blogspot.com.br/2013/02/resenha-do-livro-chico-buarque-na-sala.html

Você professor de Língua Portuguesa/Literatura amante de Chico Buarque, que tal “apresentá-lo” a seus alunos em sala de aula? 
 
Pensando nessa possibilidade de ação metodológica é que a professora Tereza Telles publicou “Chico Buarque na sala de aula: Leitura, interpretação e produção de textos” (Editora Vozes, 2009). O livro é uma ótima sugestão para se trabalhar o texto literário a partir de canções (poemas) de Chico Buarque. Pode ser trabalhado tanto com as séries finais do ensino fundamental, como também, de todo o ensino médio.
Constituída de cinco capítulos, a obra estrutura-se de forma bem didática. No capítulo I: O curso do tempo e a fragilidade da condição humana, “aliam-se a presença de um tema: a força inexorável da passagem do tempo e a impotência do ser humano diante dessa força”. Telles apresenta o poema abordando seu aspecto formal escalonando-o. Em seguida sugere um trabalho a ser trabalhado em sala de aula.
O capítulo II: O poema e as circunstâncias de sua composição. Aqui, a autora enfatiza a relação do momento da produção do poema com o momento histórico vivido. No caso o Brasil da Ditadura Militar (1970).
Já no capítulo III: A narrativa em verso, a autora trabalha os poemas atribuindo-lhes a classificação de prosa literária narrativa. Assim, é estudada toda a estrutura que compõem o gênero narrativo: foco narrativo, ação, espaço, personagens, tempo. Além de enfatizar o papel social da literatura.
No capítulo IV: A intertextualidade, Tereza Telles apresenta poema de Chico Buarque que podem ser classificados como paródicos. Exemplo é a analogia entre os poemas Meus oito anos, de Casimiro de Abreu X Doze anos, de Chico Buarque.
O último capítulo: Fundamentos teóricos. Relembra para alguns ou informa para outros, os conceitos teóricos que fundamentam qualquer prática. Assim, você caro professor, que há muitos anos deixou a cadeira da academia e que não se lembra daqueles conceitos de literatura que talvez você tenha pensado de que nada lhe serviria, este capítulo traz os principais conceitos teóricos literários e que lhe darão toda a firmeza na hora da explicação.
Marginal?


Sequencia Didatica

As transformações do Brasil pela música de Chico Buarque

Objetivos
- Entender as transformações da música popular no Brasil após 1964, destacando tanto o período da ditadura militar (até 1985), quanto o período posterior, marcado pela redemocratização do país.
- Apresentar a trajetória musical do compositor Chico Buarque.
- Identificar os traços marcantes da produção musical atual no Brasil.

Conteúdos
- Análise social da música de Chico Buarque na época da ditadura militar.
- Análise social da música de Chico Buarque após o fim da ditadura militar no contexto da redemocratização do país.
- Transformações da canção e da música popular no Brasil.
- Relações entre música popular, política e sociedade.

Tempo estimado
Três aulas

Materiais necessários
Cópias da reportagem "Chico versus Chico" (BRAVO!, Ed. 168, agosto de 2011) e das letras das canções "Apesar de você" e "Sonho de um Carnaval" (que podem ser encontradas em http://abr.io/chico) para todos os alunos; computador ou notebook; letra da canção "Rubato", do CD "Chico" que pode ser lida e ouvida em http://abr.io/chico2.

Introdução
Chico Buarque é um expoente da música popular brasileira desde meados da década de 1960. Sua produção musical é bastante variada e celebrada tanto pela crítica especializada, quanto por seus ouvintes. Durante a ditadura militar (1964-1985), suas canções ganharam notoriedade pela irreverência astuta em relação às arbitrariedades da censura e pela tenacidade com que o compositor denunciou e combateu a truculência do governo militar. Nesse sentido, sua música é considerada "engajada".
Toda essa notoriedade ainda foi reforçada pelo fato de Chico também apresentar, em muitas de suas composições, um lirismo e uma linguagem coloquial não distantes da poesia modernista. Com aguçada sensibilidade, e para além das canções de cunho político, ele cantou as nuances do amor e do desamor e manifestou uma sensibilidade especial em relação ao mundo feminino.
As características de sua produção musical fizeram de Chico um compositor querido por seu público. Essa boa relação, no entanto, parece agora ter experimentado certo abalo devido ao lançamento do álbum "Chico", que se afasta dos temas políticos, marcantes em sua trajetória.
Com base neste plano de aula e na reportagem da revista BRAVO! discuta com os alunos que mudanças na sociedade brasileira e na trajetória artística do compositor podem tê-lo levado a buscar novos rumos para as suas canções.

Desenvolvimento
1ª AULA - Música popular para falar da sociedade em diferentes épocas
Conte aos alunos que essa aula será dedicada a refletir sobre alguns períodos da história política do Brasil, com base na nossa música popular. Comece perguntando para os estudantes o que eles sabem sobre a história da música popular brasileira: quando e onde ela surgiu? Anote as opiniões no quadro e explique à turma que a música popular no Brasil tem uma história que atravessa boa parte do século 20. Observe que, até a década de 1930, a autoria das canções não era algo tão importante. Nesse período, boa parte dos nossos choros e maxixes era instrumental, cantada coletivamente e composta anonimamente.
Mostre aos alunos que essa situação mudou radicalmente com a estatização da Rádio Nacional em 1940, patrocinada por Getúlio Vargas durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), e com a criação das primeiras indústrias fonográficas no país, no mesmo período. Essas mudanças estimularam o fim da criação musical anônima, já que os artistas passaram a gravar discos e a se apresentar ao vivo nas emissoras de rádio.
Foi nessa época que o samba ganhou força. Ele introduziu a noção de autoria e ajudou a consagrar a imagem do "artista popular" no Brasil. Além disso, e por influência de Getúlio Vargas, que induziu sambistas como Wilson Batista e Ataulfo Alves a escreverem sambas para o "trabalhador" e não para a "malandragem", o gênero contribuiu para promover certa integração favorável ao regime do Estado Novo, estabelecendo uma "identidade nacional", uma relação de pertencimento do cidadão à nação.
Um exemplo notório dessa influência está na canção "O Bonde São Januário", cujos versos originais diziam "O Bonde São Januário, leva mais um sócio otário, eu que não vou trabalhar" (um contexto típico da malandragem). A pedido de Getúlio, a letra foi modificada para "O Bonde São Januário, leva mais um operário, sou eu que vou trabalhar", em prol da moral da família e do trabalhador (veja a letra e mostre um vídeo da canção para os alunos, disponível em http://abr.io/bonde).
Em seguida, passe a outro período da política recente de nosso país. Se Vargas influenciou as letras, mas fortaleceu o samba e os artistas populares, a ditadura militar, que começou em 1964, adotou a política de repressão a artistas e movimentos populares. Mesmo assim, muitos setores da população - além dos sindicatos e dos estudantes - começaram a exigir maior justiça social e a se mobilizar politicamente.
Questione a turma sobre a música brasileira no período da ditadura militar: eles conhecem os principais artistas desse período? É provável que os alunos digam nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Caso o nome de Chico não seja citado, indague: "e Chico Buarque?".
Distribua cópias da reportagem de BRAVO! e leia com os alunos. Conte aos jovens que Chico é filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e iniciou sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando venceu, com a canção "A Banda", o Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, um programa de grande apelo popular.
Explique também que, durante a ditadura, a MPB assumiu a tarefa de divulgar e difundir as aspirações populares, tornando-se fortemente ideologizada. Nesse contexto, passou a ser comum ouvir canções que defendiam a reforma agrária e a luta contra os privilégios sociais. Em 1969, com a crescente repressão e a instituição do Ato Institucional nº 5 (1968), que intensificou a censura e a perseguição a artistas e intelectuais, Chico Buarque se exilou na Itália e continuou a compor canções de engajamento, tornando-se, ao retornar, um dos artistas mais ativos na crítica política e um dos mais envolvidos na luta pela democratização no Brasil.
Para exemplificar, distribua as cópias a letra da canção "Sonho de um Carnaval" para os alunos:
Sonho de um Carnaval
(Chico Buarque)
Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano
Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano
Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade
No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança

Peça que os estudantes leiam e interpretem o significado desses versos. Aproveite as respostas dos alunos e chame a atenção para o fato de que eles remetem à ideia de povo unido e de esperança na revolução popular, simbolizada pela palavra "Carnaval". Mostre que Chico Buarque, em suas músicas de protesto, tematiza claramente os anseios políticos populares e denuncia a vida miserável do trabalhador explorado. Destaque que isso criou uma recepção positiva de suas músicas junto ao público.
Para terminar essa aula, solicite aos alunos que pesquisem na internet, no site oficial http://www.chicobuarque.com.br/, outras músicas do compositor elaboradas nesse período, para que verifiquem a constância das canções de engajamento durante os anos 1960 e 1970.

2ª AULA - Chico Buarque e os anos de chumbo
Para começar, peça que os alunos contem apresentem as músicas que encontraram e pergunte quais são os principais temas abordados nas canções de Chico Buarque: os temas são recorrentes? Adiante que uma das principais canções desse período será analisada nesta aula.
Antes de mostrar os vídeos e letras das composições, aprofunde a questão da censura intensa com a instituição do AI-5 (mencionado na primeira aula desta sequência). Explique que o ato dos militares, promulgado em dezembro de 1968, tinha como objetivo por fim à movimentação e à agitação política que acontecia no país. Conte aos alunos que o AI-5 impôs o chamado "estado de exceção", que suprimiu a Constituição, a vida política e os direitos individuais. Essas medidas alteraram a dinâmica da vida cultural do Brasil, instituindo uma censura brutal a todo tipo de produção artística.
Com isso, artistas e intelectuais do período tiveram que encontrar formas criativas de driblar a ação dos censores. E Chico Buarque foi mestre nisso. Por meio de metáforas e mensagens irônicas ou subentendidas, as letras de música se tornaram peças de resistência política. Ao contrário do que ocorreu no Estado Novo de Vargas, em que os laços entre cidadãos e artistas populares se deram em um contexto moralizante, estimulado pelo governo, durante o regime militar foi a luta contra a censura que uniu compositores e o povo, impedido de manifestar sua voz ativa.
Depois da explicação, apresente aos alunos um dos exemplos marcantes dessa cumplicidade entre público e compositor, presente na canção "Apesar de você":

Apesar de você

(Chico Buarque)

Amanhã vai ser outro dia
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Esse samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
De "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia

Depois da audição, proponha uma atividade: distribua cópias da letra dessa música para os estudantes, peça que leiam, analisem e debatam a composição e identifiquem as passagens e termos que servem para reforçar a cumplicidade entre autor e público.
Para estimular a turma, indague qual o significado da expressão "apesar de você" e discuta quem pode ser esse "você" na canção.
Antes de encerrar, solicite como lição de casa a elaboração de um texto dissertativo sobre as mudanças na música popular brasileira ao longo do Estado Novo e, posteriormente, no período da ditadura militar, dando ênfase ao papel combativo de compositores como Chico Buarque. Oriente os alunos a citar trechos de canções de Chico que ilustrem o engajamento do artista.

3ª AULA - O fim das ideologias e a música de Chico
Conte aos alunos que esta aula vai servir para mostrar a produção de Chico Buarque no contexto de pós-redemocratização do Brasil. Comece explicando que o fim da ditadura militar, em 1985, trouxe novas transformações para a música popular produzida por aqui.
O fim da censura e o início do processo de redemocratização fizeram com que as canções de protesto não fossem mais necessárias para a "integração do povo" e a construção de uma "identidade nacional". A partir dos anos 1980, os produtores culturais passaram a buscar nos padrões da cultura internacionalizada novos modelos para a produção cultural brasileira.
Comente também que o contexto histórico-político mudou muito, inclusive fora do Brasil. O mundo deixou de ser "bipolar" - ou seja, deixou de ter duas grandes potências mundiais com ideologias diferentes: uma capitalista (os Estados Unidos) e outra socialista (a então União Soviética). Explique à turma que, em decorrência desses acontecimentos, muitos autores afirmam que hoje conhecemos um fenômeno novo, denominado "fim das ideologias". Questione os alunos, indagando se essa afirmação não é, ela mesma, uma nova ideologia. Perguntas como: "a ideologia desapareceu ou a forma como ela se manifesta ganhou novas características?" e "afinal, a realidade social não se tornou ela mesma mais ideológica?" podem guiar esta etapa de discussão.
Relembre as composições de Chico Buarque analisadas nas últimas aulas e fale que as mudanças históricas ajudam a explicar a trajetória desse artista. Afinal, se as ideologias parecem ter se tornado difusas, e se não há mais um inimigo explícito e comum que a música possa combater, o que resta para o compositor em uma época em que a própria música popular parece não ter lugar?
Questione se o público de Chico Buarque é composto maciçamente por jovens ou se é formado pela geração que foi jovem na época da ditadura e que hoje tem mais de 40 ou 50 anos. Pergunte, também, se esse público mudou de padrão estético ou se tem um gosto estratificado, que permanece o mesmo através dos anos. As respostas são indicadores importantes de que houve uma mudança na própria natureza da música popular brasileira - os temas recorrentes, o modo de produção, a forma como os artistas se apresentam (sem a força do rádio ou dos grandes festivais de televisão e com a ascensão da internet, a produção e a distribuição musicais aparecem muito mais disseminadas pela rede).
Em seguida, insinue aos alunos que a música recente de Chico Buarque ainda pode ser considerada uma forma de resistência: não à ditadura militar, certamente, mas contra a diluição da tradição cultural do nosso país. Antes de perguntar aos alunos se eles concordam com essa afirmação, apresente a letra da canção "Rubato", do mais recente álbum do compositor, intitulado "Chico":

Rubato
(Chico Buarque/ Jorge Helder)

Aurora, eu fiz agora
Venha, Aurora, ouvir agora
A nossa música
Depressa, antes que um outro compositor
Me roube e toque e troque as notas no song book
E estrague tudo e exponha na televisão
O nosso amor
A nossa íntima canção
Os nossos segredos escancarados
Nos trinados de um ladrão
Que vai cantando sem pudor
A minha última canção
Venha, meu amor, venha ouvir, Aurora
A nossa música
Mas só se for agora
Venha ouvir sem mais demora
A nossa música
Que estou roubando de outro compositor
E já retoco os versos com maior talento
Dou um polimento e exponho na televisão
O nosso amor
A nossa íntima canção
As nossas mais tórridas confidências
Para audiências mundo afora
E vai lançar seu nome, Amora
A minha última canção
Venha, meu amor, venha ouvir, Amora
A nossa música
O nosso amor
A nossa íntima canção
Com nossos segredos, os mais picantes
Nos rompantes de um tenor
Que vai cantando com tremor
A minha última canção
Venha, meu amor, venha ouvir, Teodora
A nossa música

Para encerrar a aula, analise com a turma a letra da música, buscando identificar as passagens ou os termos que indiquem a crítica ao presente e à situação atual da própria música popular brasileira. Organize um debate final para saber o que os alunos pensam sobre a atual produção musical brasileira, fazendo a devida relação com a ideia de "fim das ideologias", trabalhada no início desta aula.

Avaliação
Observe se as dissertações apresentadas possuem elementos que demonstrem que os alunos entenderam as principais ideias expostas durante as aulas. Com base na participação dos alunos nas atividades de pesquisa e de discussão em sala, analise se sabem identificar as transformações ocorridas com a música popular; se compreenderam a questão do fim das ideologias e se conseguem relacionar os elementos da música de Chico Buarque com os contextos da ditadura e da redemocratização.
Consultoria Débora Cristina de Carvalho
Mestre e doutora em Sociologia pela Unesp-Araraquara, professora da Universidade Federal de Lavras e autora de livro didático de Sociologia.

O AI-5 na voz de Chico Buarque

Fonte: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/o-ai5-na-voz-chico-buarque.htm

Explore as implicações do AI-5 em uma das mais interessantes canções de Chico Buarque.


Ao trabalhar o tema da ditadura militar em sala de aula, muitos professores destacam o decreto do AI-5 como a mais significativa ação em favor do fechamento do regime. Em breve análise do documento, podemos ver que os militares garantiam para si, o direito de prender e perseguir todos os cidadãos que viessem a ferir os nebulosos princípios de defesa à segurança nacional. Nesse momento, falar o que se pensa poderia custar a liberdade e, em alguns, casos, a própria vida.

Caso ache interessante, o professor pode salientar as ações impostas pelo AI-5 realizando o destaque de alguns artigos que compunham essa controversa lei. Feita essa primeira observação, é interessante mostrar aos alunos que o auge da repressão foi marcado pelo emprego da violência, mas também despertou a inventividade de vários artistas preocupados em falar sobre os problemas daquela época. Sob tal aspecto, sugerimos um trabalho com a canção “Acorda amor”, de Chico Buarque.

Antes de executar a música, o professor deve ambientar o aluno à época em que esta canção foi concebida. Gravada em 1974, a música saiu assinada por “Julinho da Adelaide”, um pseudônimo empregado por Chico para que ele não fosse ligado à composição da letra. Além disso, vale destacar o título do álbum, “Sinal fechado”, que já viria reforçar a ideia de que a liberdade de expressão encontrava-se imobilizada, como os carros que param diante de um sinal vermelho.

Feita a leitura e audição da música, peça aos alunos que relatem oralmente sobre a história contada na letra. Em breves palavras, podemos ver que a canção retrata sobre a história de um homem que desperta a mulher e avisa-lhe de uma possível invasão ao seu lar. Nesse contexto, podemos destacar que a invasão não se trata da ação de um criminoso. Traçando seu elo com a época autoritária, a personagem diz que “era a dura, numa muito escura viatura”.

Nesse sentido, podemos ver que a canção remete às ações autoritárias, em que representantes das forças oficiais invadiam as casas e prendiam as pessoas sem uma motivação aparente. Seguindo adiante, Chico Buarque imprime parte para uma bem humorada ironia, ao chamar desesperadamente pela figura de um ladrão. Afinal de contas, parecia “melhor” ter a casa assaltada do que ser levado pelas autoridades do regime militar.

Um pouco mais à frente, o marido da canção, admoesta que ele poderia sumir por “uns meses” ou que fosse “mais de um ano”. A essa altura, a canção de Chico alerta para os vários desaparecimentos que marcaram a época e apontavam um dos lados mais sombrios da ditadura. E assim, aconselhando para que o mesmo não acontecesse à amada, o marido acha melhor que ela “não discuta à toa, não reclame”. Quem sabe, uma opção pela submissão imposta pela coerção e a violência.

Terminada a exposição do material trabalhado, os alunos podem compreender que a canção de Chico Buarque projeta uma situação que foi vivida por diversas pessoas perseguidas pelo regime militar. Por outro lado, ressalta o comportamento deste e de vários outros artistas que viveram as dificuldades dessa época. Caso ache necessário, o professor pode terminar a aula indicando outras canções que trabalhem temas semelhantes.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
 Projeto Chico Buarque na Escola

Como parte de nosso projeto pedagógico para o ano de 2012, planejamos explorar com nossos alunos a grandiosa obra de Chico Buarque.

Na verdade a ideia surgiu em meados do ano de 2011, quando em um de nossos conselhos de classe debatíamos as possibilidades multidisciplinares contidas na obra.

Já em finais de 2011 conhecemos o livro “Chico Buarque na sala de aula”, da Tereza Telles, pela Editora Vozes e o material nos incentivou bastante o trabalho.

Foi gratificante perceber como nossos alunos exploraram os textos através das diversas disciplinas e o quanto criaram, estimulados pelas referências e lembranças, muitas trazidas por seus próprios pais e avós. Assim, decidimos por organizar um sarau em que apresentariam recortes dos trabalhos do Chico através de diferentes meios. Eles realmente se empenharam em recriar e reviver a Ópera do Malandro, A História de Lily Braun, A Cidade Ideal, Teresinha, Bye Bye Brasil; estudaram a biografia, discutiram, debateram, falaram de política de história e muitas estórias.

No último dia 29 de junho, tivemos o esperado sarau.

Confira abaixo algumas fotos e vídeos!
 Leia mais: http://colegiofernandesvidal.com.br/noticias/projetochico.html