sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Portal do Som - Música e Educação


O Portal do Som (1) 

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Divulgação
Fernanda Takai

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
28/1/2010 · 16 · 24
A música brasileira aproximando gerações e rompendo preconceitos

Quem gosta muito de música popular brasileira ficou surpreendido em 2007 com o lançamento do CD "Onde brilhem os olhos meus", gravado por Fernanda Takai, do grupo Pato Fu, com releituras de músicas gravadas por Nara Leão. E dentre estas, a música “Diz que fui por aí”, gravada por Nara e também por Zé Keti, criador da canção.

Nesta gravação, considero bem interessante o andamento da música — cantada e tocada de forma mais lenta, ficando algo bem próximo a uma balada pop —, como pode-se perceber pelo toque da bateria e pela batida do violão. Não imaginava ouvir um samba tradicional dessa maneira. Causou-me muita alegria ouvi-lo nesta nova versão. E, Importante para o resultado final não esquecermos a “delícia” que é ouvir a voz de Fernanda Takai.

O cantor e compositor Zé Keti é um renomado sambista que teve uma trajetória de sucesso no Rio de Janeiro, tendo no show Opinião, símbolo da resistência cultural à ditadura militar nos anos 60, e no registro fonográfico do evento, um marco fundamental em sua carreira. O carioca Zé Keti é um autor ligado a um gênero musical tradicional, além de outros (boleros, forró, toadas e modinhas) que aprendi a respeitar e gostar , ouvindo, a partir de meados dos anos 70, releituras nas vozes de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Novos Baianos etc.

E essa ampliação do espectro do gosto musical não ficou apenas por aí; até compositores da música caipira paulista, como João Pacifico, através de uma gravação de Beth Carvalho, em meados da década de 80, ganhou a minha predileção (cd Na Fonte de 1981). A partir daí, fiquei despertado para mais ouvir composições da autoria desse compositor. E quem tornou isso possível foi a iniciativa do Antônio Fagundes. Ele mesmo! O bem sucedido ator de novelas, que gravou um disco muito bom de se ouvir, com acompanhamento de coro e de um conjunto sinfônico, somente com músicas do velho e bom compositor paulista.

Dentre as primeiras regravações/releituras que ouvi, em meados dos anos 70, a música “Coração Materno”, do Vicente Celestino, regravada por Caetano Veloso, marcou-me bastante, pelo fato inusitado que representou na época. Tal qual muita gente, tomei um susto! Porque, apesar de minha pouca idade na época, eu já tinha ouvido, de forma indireta, uma música ou outra de Vicente Celestino, e sua obra representava, para as novas gerações que “curtiam” as músicas da moçada que surgira com os festivais ou na onda da “jovem guarda”, aquilo que de mais atrasado, cafona e careta poderia existir.


Dentre estas, destaco em especial os dois LP´s — sucessos de público e de crítica — com músicas exclusivas dos compositores Dorival Caymmi e Ary Barroso, lançadas no mercado por Gal Costa nos anos de 1976 e 1980. Destaco também a antológica gravação de “Índia”, uma guarânia, estilo musical bastante comum no Paraguai e nas cidades brasileiras de fronteira com nossos hermanos latino-americanos, cuja primeira gravação de sucessso no Brasil foi realizada pela dupla Cascatinha e Inhana, em 1952. Sendo que “India” é uma das músicas preferidas de minha mãe.

E é nisso que reside uma das principais contribuições do movimento tropicalista na cultura brasileira: propiciar as novas gerações compreender, respeitar e até mesmo admirar alguns compositores e cantores que apresentaram músicas que fizeram parte da história de vida de nossos pais e avós, nos proporcionando também entrarmos em sintonia com os sentimentos, emoções e valores, como também dos acontecimentos cotidiano daqueles que nos antecederam. E isso a música dos grandes compositores de todos os tempos faz muito bem.

Outras regravações/releituras que me marcaram: Uma produzida nos anos 80, a de “Luar de Sertão”, do compositor Catulo da Paixão Cearense, realizada em um belo e emocionante dueto de Milton Nascimento com Luiz Gonzaga e, mais recentemente, uma dobradinha musical de Jair Rodrigues e Rappin Hood, em torno da música Disparada, do Geraldo Azevedo e Téo de Azevedo, um dos maiores sucessos dos festivais dos anos 60.

E isso prossegue, quando garotos e garotas ouvem regravações/releituras de músicas de Chico Buarque, Cartola, Roberto e Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Noel Rosa e de outros clássicos, na voz de Chico Science,Skank, J. Quest, Rapin Hood, Maria Rita, Vanessa da Mata, Adriana Calcanhoto e tanta gente nova. Isso garante que a permanência na memória nacional do que temos de melhor na arte musical brasileira perdurará além do período histórico em que foram concebidas, assim como acontece com a música erudita de Bach, Mozart, Techaikovsky, Beetoven e de tantos outros.

O inverso também ocorreu com os cantores da “velha guarda” que regravaram músicas de compositores da nova geração. Na década de 70, Orlando Silva e Luiz Gonzaga fizeram isso e no final da década de 80, Nelson Gonçalves gravou Cazuza, Lobão, Kid Abelha. Também ao ouvir “Nada por mim” originalmente gravado pelo Kid Abelha na voz do cantor de “boemia” fiquei muito feliz e também satisfeito pela forma “abolerada” como Nelson Gonçalves interpretou a canção.

Sobre Luiz Gonzaga e o forró pé-de-serra, na década de 70, tornou-se novamente merecedor de atenção de parcela importante da juventude a partir da inclusão de músicas que fizeram sucesso na voz do velho Lua, nos discos de Caetano, Gil, Gal e Bethania, além da presença do jovem Dominguinhos que adentrava no cenário da música brasileira em alguns momentos, na companhia dos tropicalistas.

Por último, uma grata surpresa chega em minhas mãos no ano de 2009, o CD da cantora baiana Patrícia Costa, com releituras de músicas que fizeram sucesso no período áureo da chamada axé music — década de 80 e meados de 90 do século passado, em versão acústica e com um estilo intimista e delicado. É incrível como músicas que agitaram as ruas quando cantadas em ritmo frenético próprio se transformaram em melodias suaves e tranqüilizantes!

Bom para ouvir especialmente após um dia de trabalho, quando coloco a rede no quintal, ligo o som, coloco o CD Acústico Bahia da Patrícia, e fico ouvindo as músicas na companhia da lua e das estrelas (tendo às vezes ao lado a mulher companheira), sem esquecer, é claro, de intercalar com todos aqueles já citados, como também com o trabalho musical de outros ritmos e cantores/compositores não citados nesse texto.

Afinal, boa música pode ser encontrada em todos os ritmos, tempos e lugares.

P.S.:
Ouça "Luar do Sertão" na versão de Maria Bethania.
Ouça "India" na versão de Roberto Carlos.
Ouça "Diz que fui por aí" na versão de Seu Jorge e Luiz Melodia.

Se alguém perguntar por mim, veja a programação do projeto verão de Aracaju, edição 2010, em especial a do dia 04/02/10 e saberá onde me encontrar.


O Portal do Som ( 2) - Música e Tragédia Urbana.


Recentemente, algumas tragédias urbanas — em especial a relacionada ao assassinato do cartunista Glauco e do seu filho, Raoni — me trouxeram à lembrança alguns versos da canção "Muros e Grades"( “Nas grandes cidades, no pequeno dia-a-dia, o medo nos leva tudo, sobretudo a fantasia...”), um grande sucesso dos Engenheiros do Hawaii, e uma das canções que fez parte da trilha sonora da vida de uma “banda” da geração 80. (1)

Falo em banda querendo aqui me referir a uma parte da juventude, pois outras juventudes estavam ligadas em outras vertentes musicais, mesmo que, em muitos casos, a matriz de origem fosse o mesmo rock brazuca que despontava com toda força, a partir do início da década.

“Os artistas são as antenas da raça”, disse Ezra Pound. E confirmamos isso quando paramos para ouvir com mais atenção algumas das canções gravadas pelos Engenheiros e por outras bandas musicais surgidas naquele período, como: Legião Urbana, Titãs, Ultraje a Rigor, RPM,Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Ira, Barão Vermelho, Camisa de Venus etc..

Assim como ocorreu com as gerações que os antecederam, em especial as dos anos 60 e 70, perceberemos que a geração 80 também foi capaz de mostrar e refletir acerca das muitas mazelas daquele tempo, as quais não pararam de aumentar, chegando ao atual estágio de mal estar e insegurança que vicejam por tantos lugares.

Tempos de semeadura ideológica para o triunfo do modelo neoliberal, cujo ponto alto se dá com o “Consenso de Washington”, que recomendou a menor interferência possível por parte do estado nos rumos da economia, com os consequentes cortes de investimentos nas áreas sociais, arrocho salarial, precarização das relações de trabalho, redução e “flexibilização” de direitos trabalhistas, redução do papel regulador da economia por parte do Estado. (2)

Temos no exagero dessa ideologia, em especial na sua relação com o mercado financeiro, a causa principal da crise internacional que abalou a economia mundial em 2009, resultando em dor e sofrimento para milhões de pessoas, principalmente nos Estados Unidos, Japão e na Europa.

Estas questões relacionadas as facilidades para a penetração dessas idéias na década de 80 podem ser percebidas na letra da música Ideologia (1987), de Cazuza, que nos lembra da perplexidade que se estabelece no seio de parcela da juventude em função da falta de modelos de referenciais teóricos e práticos para sustentar a luta para a construção de uma nova sociedade, entre outros motivos, agravado pela derrocada da ampla maioria dos regimes comunistas que alimentaram a esperança de uma parcela da juventude, de artistas e de intelectuais na construção de um mundo melhor e pela mudança de lado, por parte de alguns expoentes da contra cultura ou da esquerda marxista, que assumiram idéias e atitudes de defesa do status quo.

A despeito disso, como os espaços de liberdade no Brasil eram muito limitados, naquele momento, muitos que tinham entre 15 e 30 anos, mesmo sem encontrar referencias mais sólidos em termos de ideologias, se envolveram em diversas formas de participação política, cujo ápice acontece com a campanha Diretas Já, exigindo eleições diretas para presidente da república

E como tema da campanha das Diretas Já, temos a canção Inútil (1983), do grupo Ultraje a Rigor. “A música, que nasceu de pequenos fatos relacionados ao país (a primeira frase da canção foi inspirada numa frase de Pelé), ganhou cunho político e social quando o então mestre-de-cerimônias Osmar Santos tocou “Inútil” para 10 mil pessoas, no primeiro comício pré-eleição diretas, em São Paulo (...). Num outro golpe de sorte e publicidade espontânea, o deputado Ulysses Guimaraes chamou a atenção para a letra da canção em um discurso na Câmara Federal.”(3)

Outra banda que “explodiu” durante alguns poucos, mas intensos anos de sucesso (1985 a 1988) foi o RPM, um fenômeno pop que me lembrou o que se sucedeu com o “cometa” Peter Framptom, em meados da década de 1970, quando no início da adolescência ouvia Baby, I Love your way,I’m in you e Show Me the Way pelas ondas do rádio.

Embora tenha se destacado apenas com Alvorada Voraz, em termos de protesto social e político, o RPM fez um gesto que me chamou a atenção, a atualização de alguns versos quando da regravação da mesma canção, no ano de 2002.

Na primeira versão, eles se detiveram em fatos políticos e criminais de destaque, que antecederam a década de 1980 , como crimes do colarinho branco e nas torturas: O caso Morel, o crime da mala, Coroa-Brastel, O escândalo das jóias. E o contrabando, e um bando de gente importante envolvida (...) Juram que não torturam ninguém.”

E, na segunda versão de “Alvorada Voraz” , as questões selecionadas foram do final do final dos anos de 1980 até aquelas dos anos 2000, O caso Sudam, Maluf, Lalau, Barbalho, Sarney. E quem paga o jornal é a propaganda, pois nesse país é o dinheiro quem manda (...) E juram que não corrompem ninguém”.

E, como se sabe, o roubo do dinheiro público é um dos responsáveis pela “tragédia urbana”, na medida em que compromete o investimento público em geração de emprego e renda, educação, saúde, cultura, moradia, trânsito, esporte e lazer.

Já em outra vertente mais pessoal e existencial, sem perder a conexão com os aspectos sociopolíticos, não se pode esquecer de Renato Russo e seus parceiros da Legião Urbana, em função da quantidade e da diversidade de problemas do cotidiano de adolescentes e jovens, abordado por eles em suas composições.

Um exemplo disso é Faroeste Caboclo, maior sucesso radiofônico de 1988, presença obrigatória em bailinhos, sempre cantada em coro. Ao tentar explicar o sucesso da música, Renato Russo afirmou, naquele mesmo ano, que, entre outros motivos, “Fora o fato da música falar de um cara que está sofrendo altas dificuldades, tentando manter sua honra, as pessoas se identificam com isso”.(4)

Em Pais e Filhos, " É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã" um dos maiores sucessos do grupo, podemos identificar elementos muito próximos do drama existencial e familiar vivido pelo assassino de Glauco e de Raoni, conforme mostrado pela imprensa.

“Quero colo, vou fugir de casa, posso dormir aqui com você? (...) Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar. (...)”. E, como conseqüência, a tragédia atinge o ápice com: “ela se jogou da janela do quinto andar” ou no caso relacionado: Ele mata duas pessoas e, na fuga, quase tira a vida de uma terceira.

Em Aloha, Renato Russo assume o protesto juvenil de forma mais ampla, afirmando: “Será que ninguém vê o caos em que vivemos? Os jovens são tão jovens e fica tudo por isso mesmo, A juventude é rica, a juventude é pobre. A juventude sofre e ninguém parece perceber.”

E concluo ampliando o raciocínio do compositor e ainda faz muito mais gente sofrer. Ainda trazendo mais idéias abordadas nos versos da letra da canção “Muros e Grades”, vale a pena procurarmos saídas para aquilo que seus autores descrevem como uma vida superficial, sem sentido e absurda.

Na composição Comida”, dos Titãs — um dos grandes sucessos da banda naqueles anos —, encontramos a afirmação enfática do fazer artístico como uma das possibilidades para superar ou amenizar as angústias ou ansiedades da(s) galera(s): “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Afinal, como afirmou Vanderley, professor de história, artísta plástico e escritor, no II Fórum Popular de Cultura (2006), “quando a gente se nega a ser criativo e criador, nós negamos a nossa condição humana e a nossa humanidade”.

E para ampliar os horizontes sobre as questões aqui postas em foco pelas composições selecionadas por nós, recomendamos a leitura do excelente artigo Um Sentido para a Vida”, do Frei Betto, um cara que viveu a adolescência e a juventude bebendo na fonte daquilo que melhor foi produzido nas década de 60, 70 e 80, em matéria de arte, espiritualidade,filosofia e política, o qual, hoje, já com cabelos brancos, esbanja uma vitalidade que inspira garotos e garotas de todas as idades.


NOTAS:

(1) – No auge do sucesso eu não era nem tão ligado nos Engenheiros do Hawaii e no Legião Urbana. Na verdade, as minhas bandas de rock preferidas eram a Cor do Som e o 14 Bis, cuja sonoridade não eram nem tão “rock” assim, por causa da influências daquilo que era chamado na época de MPB, que em matéria de música era o que me atraía mais,e, em menor grau, o folk, a música latina e alguns clássicos do rock .

(2) – No universo do debate dos problemas nacionais, muita gente não vê com bons olhos a explicação das questões da violência urbana, como intrinsecamente relacionadas às desigualdades, no tocante a má distribuição de renda, concentração de terras e, a incapacidade da maior parte das nossas elites dirigentes, em utilizar o estado como instrumento da melhoria do padrão de vida da maioria da população. Este pensamento é bastante disseminado por meio de radialistas e apresentadores de televisão, “abutres” que se nutrem das tragédias urbanas para conquistar audiência e, em alguns casos, votos.

“Ora senhores, certo perdestes o senso” porque basta comparar a nossa situação em matéria de criminalidade com os países do norte da Europa, Dinamarca, Finlândia, Suécia,Noruega entre outros, para percebermos a grande diferença.

Como estes países têm uma das distribuições de renda mais igualitária, serviços públicos de excelente qualidade e um sistema de proteção social primoroso, os indicadores de violência urbana são baixíssimos.

(3) ALZER, Luiz André e CLAUDINO, Mariana. Almanaque Anos 80. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004

(4) ALEXANDRE, Ricardo (org). História do Rock Brasileiro (Vol. 3). São Paulo: Editora Abril, s/d.

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O Portal do Som (3) - Sergipe para exportação 

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Vista aérea de Aracaju

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
29/8/2010 · 11 · 9
MÚSICA SERGIPANA TIPO EXPORTAÇÃO
Mais uma noite de puro deleite estético/musical em 2010, vivida por mim, juntamente com muita gente “bonita” como disse uma das pessoas que nos acompanhou na Cantoria, organizada pelo grupo de forró Casaca de Couro no restaurante O Paiol em uma noite de sexta-feira (20/08).

O time bem escalado para aquela noite, foi composto de quatro violeiros sergipanos: Muskito, Sena, Joaquim Ferreira e Nino Karvan, participaram também o poeta popular João Brasileiro, o percussionista Tom Toy e os violeiros convidados Josino Medina (Vale do Jequitinhonha), Dinho Oliveira (Vitória da Conquista) e Paulinho de Jequié.

Uma apresentação que me chamou a atenção foi a do cantador do vale do Jequitinhonha, Josino Medina, que traz um som de viola, de dupla matiz sonora, do nordeste e do sudeste, fruto da localização do vale do Jequitinhonha e a de Nino Karvan, que trouxe um toque urbano, agregando novidade ao estilo. Momento emocionante foi todos juntos cantados clássicos como Romaria (Renato Teixeira) e Cio da Terra (Chico Buarque e Milton Nascimento).

No final, para dançar, o autêntico forró do grupo Casaca de Couro, o qual não ficou nada a dever as noites em que o grupo se apresentou no Complexo Cultural “O Gonzagão” nos anos de 2007, 2008 e 2009. Considerado, conforme pesquisa junto ao público presente, como um dos três melhores pé de serra da programação organizada quando estivemos a frente daquela tradicional casa de forró.

Tenho ótimas lembranças sonoras de outras noites em 2010. Noites nas quais aconteceram quando estivemos presentes ao show da Patricia Polayne em duas ocasiões, em uma concha acústica da UFS e no pub Capitão Cook, “o que é bom é para ser visto e revisto”.

E para completar, também estivemos presente no surpreendente show de lançamento do CD de Pantera e em uma noite de apresentação do Maria Scombona antecedendo a entrada da Fernanda Takai no Festival de Verão.

Outra noite memóravel foi aquela da gravação do DVD da dupla Chico Queiroga & Antônio Rogério Mesmo não estando presente, pude captar através do DVD as boas energias, ou as “vibrações positivas” repetindo o bordão de um empresário e politico sergipano ligado ao segmento da cultura de massa baiana.

Uma característica que me empolgou em todas elas, daí o titulo deste artigo, foi o alto grau da qualidade da produção, tanto da parte dos artistas e músicos, como da área técnica, em especial quanto ao som e iluminação.

Também gosto do estilo das composições da Patricia, do Chico&Rogério, do Edelson Pantera e do grupo Maria Scombona pelo fato de serem músicas de gente daqui, mas que sabe incorporar outras matizes sonores. E através disso compor uma interação estética bastante criativa de elementos locais com outras vertentes da musicalidade nordestina, brasileira e universal.

Ao contrário, as músicas de cantoria, também me atraem pela aproximação que esse estilo de música guarda com relação às raízes populares, notadamente do interior nos proporcionando manter conexões bem profundas com o sertão que está dentro de nós e que está em toda parte, como disse Guimarães Rosa.

E é bom que seja assim, é bom poder apreciar música sergipana de alto nivel e cujo sonoridade, ritmos e letras trate das nossas questões, em sintonia com o que circula pelas antenas por sobre as nossas cabeças.

Como também aquelas que nos sintoniza com as antenas que estão dentro da gente, em especial com aquilo que nos vincula a terra, as águas, aos animais, as plantas, aos mitos , aos modo de pensar e viver dos nossos antepassados que viveram ou que ainda vivem no campo.

A esse propósito, o restaurante O Paiol em funcão de estar em um espaço cujo verde é um componente bem presente, além da terra e a circulação do ar, proporcionada pelo fato da área coberta não ocupar todo o terreno. Isso me pareceu um elemento muito importante para a composição do cenário e do clima.

Algo que me lembrou a contribuição que o mar proporcionava ao sucesso da casa de forró Candeeiro que, durante alguns anos funcionou sob as areias e circundadas pelos coqueiros da Praia de Aruana.

CADA SOM PUXA UMA LEMBRANÇA
No show da Patricia Polayne realizada em uma concha acústica rodeada por grama e árvores dentro da UFS também senti a natureza como uma parceira importante para o sucesso da noite. O elemento cênico em termos de figurino e adereços, a percussão, bem como os movimentos corporais e faciais da cantora foram muito importantes para o sucesso do show.

Muito bom e evidente perceber nas composições e nos arranjos, referências do movimento musical conhecido como Mangue Beat .

Quanto ao show do Pantera a minha surpresa foi assistir ao show de um artista sergipano, com um sonoridade que em alguns momentos me transportou para um tempo e um lugar diferente de onde eu estava, cidades velhas, gente simples, bairros antigos, com crianças brincando, pessoas na calçada, árvores no quintal, frutas colhidas no pé.

Sensações iguais quando ouço algumas músicas do Chico Buarque, do Ivan Lins, de Caetano e Gil, do Boca Livre, e principalmente do Milton e de seus companheiros do clube da esquina ou das composições instrumentais do Wagner Tiso e do Egberto Gismonti.

E sobre a influência do som do Clube da Esquina na obra de Pantera: foi a surpresa mais agradável daquela noite. A produção, em matéria de arranjos, ficou a cargo de Toninho Horta que também se fez presente como músico, tendo sido homenageado por Pantera em uma composição totalmente dedicada ao Toninho.

IMPACTOS POSITIVOS
Percebi no material de divulgação dos shows, Cds e Dvds da Patricia Polayne e do Chico & Rogério a marca do Governo Federal através do Projeto Pixinguinha. Isto possibilitou a melhoria do padrão de qualidade técnica e artística, no caso dos arranjos e da qualidade da gravação, tanto em aúdio com em video, bem perceptível para quem esteve presente aos shows e/ou que adquiriram o material gravado.

Este fato, aliado aos outros programas de fomento e incentivo a cultura demonstra o impacto positivo que isso está proporcionando para a cadeia produtiva da música.

Para que isto se amplie e se consolide espero que as universidades invistam em estudos e pesquisas sobre os impactos culturais, econômicos e sociais e certamente com o estimulo financeiro dos governos estaduais e federal, através dos bancos oficiais e com recursos diretos do Ministério da Cultura, muito mais poderá ser realizado neste campo.

Outro aspecto urgente em termos políticos é a democratização do acesso. E uma forma de realizar essa democratização é possibilitar a mais universidades públicas e entidades da sociedade a concessões de canais de rádio e tvs.

Aqui em Sergipe a entrada no ar da Rádio UFS, bem como a reformulação da programação da Rádio Aperipê e Aperipê TV , com a chegada dos novos gestores que assumiram em função da vitória do governador Marcelo Deda (PT) no ano de 2006, está possibilitando um ganho muito promissor para artistas sergipanos, cujas músicas dispunham de pouco espaço para chegar ao público.

Para concluir, é muito importante mais investimento na circulação de espetáculos artísticos e oficinas culturais na rede de escolas e universidades públicas.

Essa medida é imprescindível para ajudar tanto na formação de platéia, como para ajudar a tornar a escola um espaço mais completo em termos educativos. Afinal, como sabemos, nos tempo atuais uma escola que não interaja com a cultura brasileira, não atende completamente aos saberes e fazeres necessários para a educação do futuro.

Do contrário, ruim para a cultura, cujo lixo cultural continuará ganhando cada vez mais corações e mentes. E pior ainda para a escola que continuará sendo um local, cujo interesse e satisfação será cada vez menor em relação aquele proporcionado pela televisão e pela internet.

Como estamos em época de eleições, eleger ou reeleger governos e parlamentares comprometidos com estas bandeiras é tarefa de todos nós. Disso depende a viabilização de condições para que muito mais brasileiros possam se deleitar de prazer em termos estéticos/culturais, com reflexos positivos para a educação, para a economia, para a saúde e para a segurança pública.

P.S: (1)Na última viagem que realizei a Belém do Pará, em julho, pela primeira vez levei CDs de música sergjpana para presentar aos organizadores de um congresso internacional de arte-educação e para parentes que moram na região. No primeiro caso utilizamos CDs doados, além de livros, folhetos sobre turismo e cultura de Sergipe. No segundo caso, custeamos as despesas de aquisição, favorecido pelo preço acessível proporcionado pela apoio do Projeto Pixinguinha a tiragem do trabalho do Chico&Rogério e da Patricia Polayne. O que nos motivou, entre outras razões, está descrito no titulo e em toda a argumentação

(2) Clique abaixo para conferir experiências exitosas da parceria escola e grupos/linguagens artísticas.


Circuito Escolar Maria Scombona

Projeto Estatuto da Criança e do Adolescente com Arte.


Infelizmente muito aquém do que necessitamos. O que fazer para que o MEC e o MINC,bem como as respectivas secretarias de educação e cultura dos estados e municípios dialoguem para que isto seja ampliado dentro do universo escolar? Que tal Pontos de Cultura Itinerantes voltados para a promoção de oficinas/seminários para professores e alunos e a circulação de espetáculos no seio das escolas?

Caso você seja um participante ou conhecedor de iniciativas que façam interagir escolas com grupos/linguagens artísticas, disponibilize o link em "comentários" .

(3) - Confira um exemplo da repercussão de um show da Patricia Polayne no dia 24/08 em Sampa.