terça-feira, 11 de agosto de 2015

Apresentadores lutam contra desmanche da TV Cultura


agosto 10, 2015 13:15- Fonte Revista Fórum
Apresentadores lutam contra desmanche da TV Cultura
Grupo organiza uma petição online direcionada ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao atual presidente da emissora, Marcos Mendonça; o objetivo da ação é cobrar providências contra a precarização de trabalho e a extinção de atrações do canal, que já foi considerado o segundo melhor do mundo em qualidade de programação
Por Redação*
Ex-apresentadores e produtores da TV Cultura estão reunidos em uma campanha para chamar a atenção do público para a atual situação do canal. Além da realização de um vídeo, o grupo organiza um abaixo-assinado direcionado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao atual presidente da emissora pública, Marcos Mendonça, e ao conselho curador.
Segundo os coordenadores da ação, há um cenário de desmonte e terceirização da programação. Várias atrações já foram extintas, como Zoom, Vitrine, Cocoricó e Bem Brasil. E outras correm o risco de acabar, como Viola Minha Viola, líder de audiência, e o Provocações. Demissões em massa e precarização das relações de trabalho também foram denunciadas na petição online, que alerta para a crise na emissora que se tornou referência pela qualidade informativa e educacional de suas produções.
A TV Cultura foi eleita, no ano passado, o segundo canal com melhor qualidade de programação do mundo, de acordo com uma pesquisa do Instituto Populus, feita a pedido da britânica BBC. O levantamento foi realizado entre as 66 principais redes de televisão de 14 países. A Globo, segunda representante brasileira no ranking, ficou em 28º lugar.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

MEC cria grupo de trabalho para identificar práticas inovadoras para a criatividade na Educação Básica



MEC cria grupo de trabalho para identificar práticas inovadoras para a criatividade na Educação Básica
Foi instalado pelo Ministério da Educação, nesta terça-feira, dia 23, um grupo de trabalho que deverá identificar práticas inovadoras para a criatividade na educação básica brasileira.
O objetivo do MEC é divulgar essas experiências para incentivar as escolas a promover a produção de conhecimento e cultura pelos próprios estudantes, bem como o desenvolvimento integral. 
O grupo de trabalho será composto por 15 pessoas, entre especialistas e professores.
Estes pesquisadores terão a missão de criar os grupos regionais para identificar as práticas criativas. 
Além disso, o grupo também será responsável pela criação de meios de divulgação desses projetos inovadores, tais como site ou blog, redes sociais entre outros. 
O grupo de trabalho tem como coordenadora a Assessora Especial do Ministro, Helena Singer.
Também está previsto o lançamento de uma chamada pública para o fim do mês de agosto anunciando as atividades do grupo.

Assista o vídeo abaixo com a reportagem no endereço abaixo:
https://www.facebook.com/ministeriodaeducacao

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Cinema Europeu no Cine Vitoria em Aracaju



Festival Varilux – filmes pagos R$7.00 meia e R$14.00 inteira
Sábado (13/06)
‘Asterix e o Domínio dos Deuses’ – 12:25
‘Papa ou Maman’ – 15:50
‘Que Mal Eu Fiz a Deus?’ – 19:40

Domingo (14/06)
‘Asterix e o Domínio dos Deuses’ – 12:30
‘Hipócrates’ – 18:45

Festival do cinema europeu – entrada franca
Cine Vitória
 Sábado 13/06 às 14h
 "A Estação de Rádio" (2012), de Nicolas Philibert - França
Documentário | 103 min
Classificação Indicativa: Livre
Sinopse: Quantos takes são necessários para gravar a acústica perfeita de uma porta se abrindo? E para modular corretamente a voz de um leitor? O documentarista Nicolas Philibert encara o desafio de fazer um filme sobre a Radio France. Munido de sua câmera e equipamento de áudio, o cineasta passou seis meses dentro dos corredores do lugar, registrando a meticulosa rotina de trabalho dos funcionários da estação e sua programação - que inclui concertos, entrevistas, reportagens e conversas com ouvintes.
 13/06 as 17h
 "Tabu" (2012), de Miguel Gomes - Portugal
Drama | 118 min
Classificação Indicativa: 12 anos
Sinopse: Aurora é uma idosa temperamental que divide o andar de um prédio em Lisboa com sua empregada cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais. Quando a primeira morre, as outras duas passam a conhecer um oculto episódio do seu passado: uma história de amor e crime vivida na África. O filme conta também a história do fim do império de Portugal no continente africano.
  Domingo 14/06 às 14h
 "O Amante da Rainha" (2012), de Nikolaj Arcel - Dinamarca
Drama | 132 min
Classificação Indicativa: 14 anos
Sinopse: uma história sobre a dramática relação amorosa e aspirações políticas da Rainha Caroline e Johann Struensee, médico do desequilibrado Rei Christian VII. Eles sonham com um mundo melhor para o povo. Por intermédio da influência de Johann sobre o Governo do Rei, o poder da aristocracia é diminuído e reformas são introduzidas. Mas é somente uma questão de tempo antes que a corte retome o controle em nome do rei.
  Domingo 14/06 às 17h

"O Reencontro" (2013), de Anna Odell - Suécia
Drama | 88 min
Classificação Indicativa: Livre
Sinopse: Anna Odell, uma artista famosa, não foi convidada para o reencontro da turma da escola. Ela faz um filme sobre o que poderia ter acontecido se ela tivesse ido ao reencontro e confrontado seus ex-colegas, dos quais sofreu bullying. Mais tarde, ela mostra o filme para os ex-colegas de colégio, e documenta suas reações.


terça-feira, 2 de junho de 2015

AÇÃO CULTURAL REALIZA PRIMEIRA OFICINA DE SUSTENTABILIDADE- LINGUAGEM AUDIOVISUAL.


Marcel Magalhães - Responsável pela condução técnica das oficinas


Oficina realizada pelo Ponto de Cultura em  2014 no Conjunto Jardim. Em formato 100% gratuíto 

No final de 2014,  um grupo de associados e/ou colaboradores se reuniram para planejar as atividades para 2015 e uma das principais decisões foi buscar parceiros  nas comunidades da periferia de Aracaju e região metropolitana, para a realização de oficinas de pintura em tecido, customização de roupas, audiovisual e artes cênicas. 

Estas oficina foram denominadas de oficinas de sustentabilidade por terem  os seguintes  objetivos: Colaborar para diminuir a dependência de recursos públicos, ampliar o mercado de trabalho para os artistas ligados ao Ponto de Cultura Juventude e Cidadania e ampliar o acesso a arte de qualidade para  moradores das comunidades por um preço  acessivel

Inicialmente,  fizemos  parcerias com organizações de duas comunidades, Costa e Silva e Santos Dumont e no caso desta última , conseguiu-se inscrever  um grupo de 15  jovens que se reunirão em  um dos salões anexos da Paróquia São Francisco de Assis,  para  participarem da primeira oficina de sustentabilidade – linguagem audiovisual  - módulo fotografia, nos dias 05 e 06 de junho.

A expertise para a realização desta oficina,  foi obtida com a realização de oficinas de audiovisual nos anos de 2012 a 2014,   com financiamento  do programa cultura viva – pontos de cultura, patrocínio  do ministério da cultura em parceria com a secretaria de estado da cultura.

Na expectativa do resultado positivo dessa iniciativa , temos pretensão de prosseguirmos realizando  ações culturais  nestes dois formatos, de forma gratuita por meio de recursos obtidos em editais públicos e por meio da  economia solidária (parcerias com lideranças e grupos comunitários, ensino de qualidade e preço ao alcance da realidade econômica  da população da periferia).

Quem tiver interesse em colaborar para a realização  da iniciativa em  outras  comunidades, pode entrar  em contato por meio do e-mail zezitodeoliveira@gmail.com
 
Havendo grupos de 10 a 15 pessoas com disponibilidade, poderemos também  realizar oficinas na sede da Ação Cultural no centro de Aracaju, a exceção da linguagem de artes cênicas.

Observação importante, além de lideranças e grupos comunitários, podemos realizar parcerias com   pessoas ou grupos que atuam em diversos campos e de diversas maneiras em trabalhos de  promoção humana e social nas comunidades, assim como como  órgãos públicos e empresas.

Profissionais que trabalham em escolas e/ou com atividades de promoção humana e social interessados em dinamizar e inovar seus trabalhos, podem reunir um grupo de colegas e contratar uma oficina.
 
Oficina realizada pelo Ponto de Cultura em  2014 no Conjunto Jardim. Em formato 100% gratuíto 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

MAPEAMENTO DE INICIATIVAS CULTURAIS ESCOLARES E COMUNITÁRIAS.

Quando Gilberto Gil assumiu  o Ministério da Cultura (MINC) no ano de 2003,  fez um discurso na câmara dos deputados, afirmando  que há muitas iniciativas culturais que nascem e morrem sem que o Brasil possa se dar conta de quanto talento é capaz a nossa gente.
A  partir de então,  o MINC reuniu em diversos momentos,  milhares de agentes ligados as  iniciativas culturais que resistiam aos  obstáculos e adversidades para produzir cultura nas comunidades, visando  discutir os problemas e encontrar  alternativas. Depois disso  foram criados diversas politicas e programas culturais, com destaque para o Cultura Viva – Pontos de Cultura.
Com o programa Cultura Viva,  pela primeira vez na história da república brasileira, iniciativas culturais de base comunitária, passaram a receber recursos públicos substanciais, com alguma regularidade e mediante seleção pública, além da criação de ambientes e oportunidades para o intercâmbio e troca de experiências.
A despeito disso, ainda há muito  em matéria de produção cultural de base comunitária para ser alcançada pelas ações do programa cultura viva e de outras politicas públicas governamentais.
Para contribuir no sentido de tornar isto realidade, diversas ações por parte do MINC, estão sendo iniciadas ou recomeçadas neste ano de 2015,  a partir da vontade politica em  retomar o vigor inicial do Programa Cultura Viva. 
Como uma das formas de fazer valer esta disposição, estão sendo organizadas Caravanas Cultura Viva para interagir com  Pontos de Cultura e outros tipos de iniciativas culturais país afora , além do uso potente das redes sociais, com o objetivo de disseminar informações e conhecimentos sobre o Programa Cultura Viva e outras ações  que tenham relação com este, ações desenvolvidas tanto pelo governo, como por agentes culturais e organizações da sociedade civil.
Neste campo da sociedade civil organizada,  a Ação Cultural,  reconhecida como Ponto de Cultura no ano de 2011, tem buscado participar e fortalecer de iniciativas que colaborem para ampliar a presença de mais iniciativas e agentes culturais nos espaços conquistados de promoção e desenvolvimento da cultura viva comunitária.
Neste sentido,  uma das ações pensadas em 2014 e que pretendemos realizar no ano de 2015 é um mapeamento de iniciativas culturais exitosas que acontecem  nas escolas e em outros espaços das comunidades,  na periferia e no  interior de Sergipe,  afim de estabelecermos uma ligação mais estreita que possibilite a realização em rede, de projetos ou ações conjuntas nas áreas do diagnóstico sócio cultural, planejamento participativo, metodologias do trabalho socioeducativo e cultural, produção cultural colaborativa, uso das redes sociais, conhecimentos especializados em linguagens artísticas e manifestações culturais, captação de recursos, promoção de mostras artísticas ou festivais e etc.
Para começar este  mapeamento, estamos disponibilizando um questionário que poderá ser solicitado através do e-mail zezitodeoliveira@gmail.com  
Para fins de preenchimento do questionário,   INICIATIVA CULTURAL significa atividades, eventos, artistas, fazedores de cultura, lugares e grupos culturais, professores e outros profissionais ou lideres da comunidade envolvidos em trabalhos culturais reconhecidos socialmente e historicamente, no seio das comunidades.
Para saber e participar de ações que já estão sendo realizadas nas áreas que indicamos acima, recomendamos os interessados em participar desta iniciativa cultural colaborativa, a adesão as  páginas e grupos no facebook listados abaixo, além de seguir o blog da Ação Cultural e Produção Cultural nas Escolas.  
 Rede de  Pontos de Cultura de Sergipe
Produção Cultural nas Escolas
blog da Ação Cultural
blog Produção Cultural nas Escolas
 
 
Para saber mais sobre a retomada vigorosa do Programa Cultura Viva
 Regulamentada recentemente, a Lei Cultura Viva promete simplificar e fortalecer os chamados pontos de cultura. Ivana Bentes, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, fala ao Agenda sobre a atual gestão do Programa Cultura Viva.   https://www.youtube.com/watch?v=XwfF2sQFQMA

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A cultura capitalista é anti-vida e anti-felicidade. Artigo de Leonardo Boff



"Onde reside o gênio do capitalismo? Na exacebação do eu até ao máximo possível, do indivíduo e da auto-afirmação, desdenhando o todo maior, a integração e o nós. Desta forma desequlibriou toda a existência humana, pelo excesso de uma das forças, ignorando a outra", afirma Leonardo Boff teólogo, filósofo e escritor.



Eis o artigo.
A demolição teórica do capitalismo como modo de produção começou com Karl Marx e foi crescendo ao longo de todo o século XX com o surgimento do socialismo. Para realizar seu propósito maior de acumular riqueza de forma ilimitada, o capitalismo agilizou todas as forças produtivas disponíveis. Mas teve como consequência, desde o início, um alto custo: uma perversa desigualdade social. Em termos ético-políticos, signfica injustiça social e produção sistemática de pobreza.
Nos últimos decênios, a sociedade foi se dando conta tam bém de que não vogora apenas uma injustiça social, mas também uma injustiça ecológica: devastação de inteiros ecossitemas, exaustão dos bens naturais, e, no termo, uma crise geral do sistema-vida e do sistema-Terra. As forças produtivas se transformaram em destrutivas. Diretamente o que se busca msmo é dinheiro.
Como advertiu o Papa Francisco em excertos já conhecidos da Exortação Apostólica sobre a Ecologia: ”no capitalimo já não é o homem que comanda, mas o dinheiro e o dinheiro vivo. A ganância é a motivação ... Um sistema econômico centrado no deus-dinheiro precisa saquear a natureza para sustentar o ritmo frenético de consumo que lhe é inerente."
Agora o capitalismo mostrou sua verdadeira face: temos a ver com um sistema anti-vida humana e anti-vida natural. Ele nos coloca o dilema: ou mdudamos ou corremos o risco da nossa própria destruição, como alerta a Carta da Terra.
No entanto, ele persiste como o sistema dominante em todo o globo sob o nome de macroeconomia neoliberal de mercado. Em que reside sua permanência e persistência? No meu modo de ver, reside na cultura do capital. Isso é mais que um modo de produção. Enquanto cultura encarna um modo de viver, de produzir, de consumir, de se relacionar com a natureza e com os seres humanos, constituíndo um sistema que consegue continuamente se reproduzir, pouco importa em que cultura vier a se instalar. Ele criou uma mentalidade, uma forma de exercer o poder e um código ético. Como enfatizou Fábio Konder Comparato num livro quer merece ser estudado A civlizazção capitalista (Saraiva, 2014):”o capitalismo é a primeira civilização mundial da história”(p.19). O capitalismo orgulhosamente afirma:"não há outra alternativa."
Vejamos rapidamente algumas se suas características: finalidade da vida: acumular bens materiais; mediante um crescimento ilimitado produzido pela exploração sem limites de todos os bens naturais; pela mercantilização de todas as coisas e pela especulação financeira; tudo feito com o menor investimento possível, visando a obter pela eficácia o maior lucro possível dentro do tempo mais curto possível; o motor é a concorrência turbinada pela propaganda comercial; o beneficiado final é o indivíduo; a promessa é a felicidade num contexto de materialismo raso.
Para este propósito se apropia de todo tempo de vida do ser humano, não deixando espaço para a gratuidade, a convivência fraternal entre as pessoas e com a natureza, o amor, a solidariedade e o simples viver como alegria de viver. Como tais realidades não importam na cultura do capital mas são elas que produzem a felicidade possível, o capitalismo destrói as condições daquilo que se propunha: a felicidade. Assim ele não é só como anti-vida mas também anti-felicidade.
Como se depreende, esses ideais não são propriamente os mais dignos para efêmera e única passagem de nossa vida neste pequeno planeta. O ser humano não possui apenas fome de pão e afã de riqueza; é portador de outras tantas fomes como de comunicação, de encantamento, de paixão amorosa, de beleza e arte e de transcendência, entre outras tantas.
Mas por que a cultura do capital se mostra assim tão persistente? Sem maiores mediações diria: porque ela realiza uma das dimensões essenciais da existência humana, embora a elabore de forma distorcida: a necessidade de auto-afirmar-se, de reforaçar seu eu, caso contrário não subsiste e é absorvido pelos outros ou desaparece.
Biólogos e mesmo cosmólogos (citemos apenas um dos maiores deles Brian Swimme) nos ensinam: em todos os seres do universo, especialmente no ser humano, vigoram duas forças que coexistem e se tencionam: a vontade do indivíduo de ser, de persistir e de continuar dentro do processo da vida; para isso tem que se auto-afirmar e fortalecer sua identidade, seu “eu”. A outra força é da integração num todo maior, na espécie, da qual o indivíduvo é um representante, constituido redes e sistemas de relações fora das quais ninguém subsiste.
A primeira força se constela ao redor do eu e do indivíduo e origina o individualismo. A segunda se articula ao redor da espécie, do nós e dá origem ao comunitário e ao societário. O primeiro está na base do capitalismo, o segundo, do socialismo.
Onde reside o gênio do capitalismo? Na exacebação do eu até ao máximo possível, do indivíduo e da auto-afirmação, desdenhando o todo maior, a integração e o nós. Desta forma desequlibriou toda a existência humana, pelo excesso de uma das forças, ignorando a outra.
Nesse dado natural reside a força de perpetuação da cultura do capital, pois se funda em algo verdadeiro mas concretizado de forma exacerbadamente unilateral e patológica.
Como superar esta situação secular? Fundamentalmente no regate do equilíbrio destas duas forças naturais que compõem a nossa realidade. Talvez seja a democracia sem fim, aquela instituição que faz jus, simultaneamente, ao indivíduo (eu) mas inserido dentro de um todo maior (nós, a sociedade) do qual é parte. Voltaremos ao tema.

domingo, 12 de abril de 2015

A EDUCAÇÃO QUE TEMOS ROUBA DOS JOVENS A CONSCIÊNCIA, O TEMPO E A VIDA

Fonte: http://estaremsi.com.br/a-educacao-que-temos-rouba-dos-jovens-a-consciencia-o-tempo-e-a-vida/

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Quando ouvimos este psiquiatra chileno de 75 anos, temos a sensação de estarmos diante de Jean-Jacques Rousseau do nosso tempo. Ele nos conta que esteve bastante adormecido até os anos 60, quando se mudou para os EUA, se tornou discípulo de Fritz Perls, um dos grandes terapeutas do século XX, e passou a integrar a equipe de terapeutas do Instituto Esalen da Califórnia. A partir deste momento passou a ter profundas experiências no mundo terapêutico e espiritual. Entrou em contato com o Sufismo e tornou-se um dos introdutores do Eneagrama no Ocidente. Ele também bebeu do budismo tibetano e do zen.
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Claudio Naranjo tem dedicado sua vida à pesquisa e ao ensino em universidades como Harvard e Berkeley. Fundou o programa SAT, uma integração de Gestalt-terapia, o Eneagrama e Meditação para enriquecer a formação de terapeutas  professores. Neste momento, lança um alerta contundente: ou mudamos a educação ou o mundo vai afundar.
- Você diz que para mudar o mundo é preciso mudar a educação. Qual é o problema da educação e qual é a sua proposta?
- O problema da educação não é de forma alguma o que os educadores pensam que é. Acreditam que os alunos não querem mais o que eles tem a oferecer. Aos alunos vão querer forçar uma educação irrelevante e estes se defendem com distúrbios de atenção e com a desmotivação. Eu acho que a educação não está a serviço da evolução humana, mas sim a produção ou socialização. Esta educação serve para adestrar as pessoas de geração em geração, a fim de continuar a ser mais um manipulado pelos cordeiros da mídia. Este é um grande mal social. Você quer usar a educação como uma maneira de embutir na mente das pessoas uma maneira de ver as coisas que irá atender ao sistema e a burocracia. Nossa maior necessidade é evoluir na educação, para que as pessoas sejam o que elas poderiam ser.
A crise da educação não é uma crise entre as muitas crises que temos, uma vez que a educação é o cerne do problema. O mundo está em uma profunda crise porque não temos uma educação para a consciência. Nós temos uma educação de uma forma que está roubando as pessoas de sua consciência, seu tempo e sua vida.
O modelo de desenvolvimento econômico de hoje tem ofuscado o desenvolvimento da pessoa.
- Como seria uma educação para a qual sejamos seres completos?
- A educação ensina as pessoas a passar por exames, não em pensar por si mesmas. É um exame que não se mede a compreensão, mede-se então a capacidade de repetir. É ridículo, se perde uma grande quantidade de energia! Ao invés de uma educação para a informação, precisamos de uma educação que aborde o aspecto emocional e uma educação da mente profunda. Para mim parece que estamos presos entre uma alternativa idiota, que é a educação secular e uma educação autoritária que é a educação religiosa tradicional. Está tudo bem separar o Estado e a Igreja mas, por exemplo, a Espanha, tem descartado o espírito, como se religião e espírito fossem a mesma coisa. Precisamos que a educação também atenda à mente profunda
- Quando você fala sobre a espiritualidade e a mente profunda o que quer dizer exatamente?
Tem a ver com a própria consciência. Tem a ver com essa parte da mente da qual depende o sentido da vida. Se está educando as pessoas sem este sentido. Tampouco é uma educação de valores, porque a educação de valores é demasiadamente retórica e intelectual. Os valores deveriam ser cultivados através de um processo de transformação pessoal e esta transformação está longe da educação atual.
A educação deve também incluir um aspecto terapêutico. O desenvolvimento pessoal não pode ser separado do crescimento emocional. Os jovens estão muito danificados afetiva e emocionalmente pelo fato de que o mercado de trabalho esta absorvendo os pais que não têm mais disponibilidade para os filhos. Há muita carência amorosa e muitos desequilíbrios nas crianças. Não pode aprender intelectualmente uma pessoa que está emocionalmente danificado.
O lado terapêutico tem muito a ver com resgatar na pessoa a liberdade, a espontaneidade e a capacidade de satisfazer seus próprios desejos. O mundo civilizado é um mundo domesticado e tanto a formação como a criança são instrumentos desta domesticação. Temos uma civilização doente que os artistas perceberam há muito tempo e agora cada vez mais pensadores, percebem também.
-A educação parece interessada apenas em desenvolver as pessoas racionais. Que outras partes mais poderiam ser desenvolvidas?
-Eu coloco ênfase de que somos seres com três cérebros: temos cabeça (cérebro intelectual), coração (cérebro emocional) e intestino (cérebro visceral ou instintivo). A civilização está intimamente ligada à tomada do poder pelo cérebro racional. No momento em que os homens predominaram no controle político, cerca de 6000 anos atrás, se instaura o que chamamos de civilização. E não é só o domínio masculino e nem só o domínio da razão, mas também a razão instrumental e prática, que se associa com a tecnologia;  é este predomínio da razão instrumental sob o afeto e a sabedoria instintiva que nos tem empobrecidos. A plenitude só pode viver em uma pessoa que tem os três cérebros ordenados e coordenados. Deste meu ponto de vista, precisamos de uma educação para os seres com três cérebros. Uma educação que poderia ser chamada de holística ou integral. Se vamos educar a pessoa como um todo, devemos ter em mente que a pessoa não é apenas razão.
Ao sistema convém que cada pessoa não esteja em contato consigo mesma e nem que pense por si mesma. Por mais que se levante a bandeira da democracia, ela tem muito medo que as pessoas tenham uma voz e estejam conscientes. A classe política não está disposta a investir em educação.
- A educação nos faz mergulhar em um mar de conceitos que nos separam da realidade e nos aprisiona em nossa própria mente. Como se pode sair desta prisão?
Esta é uma grande questão e é uma questão necessária no mundo educacional. A ideia de que o conceitual é uma prisão requer uma certa experiência de que a vida é mais que isto. Para quem já tem interesse em sair da prisão intelectual, é muito importante ter disciplina para parar a mente, ter a disciplina do silêncio, como praticado em todas as tradições espirituais: cristianismo, budismo, yoga, xamanismo… Parar os diálogos internos em todas as tradições do desenvolvimento humano tem sido visto como algo muito importante. A pessoa precisa se alimentar de coisas a mais do que conceitos. A educação quer aprisionar a pessoa em um lugar onde ela é submetida a uma educação conceitual forçada, como se não houvesse outra coisa na vida. É muito importante, por exemplo, a beleza… A capacidade de reverência, admiração, veneração, de devoção. Isto não tem a ver necessariamente com uma religião ou um sistema de crenças. É uma parte importante da vida interior que está se perdendo, da mesma forma que estão perdendo belas áreas da superfície da Terra, a medida que se constrói e se urbaniza.
- Precisamente quero saber sua opinião sobre a crise ecológica que vivemos.
Ela é uma crise muito evidente, é a ameaça mais tangível de todas. Você pode facilmente prever que, com o aquecimento global, com o envenenamento dos oceanos e outros desastres que estão acontecendo, muitas pessoas não poderão sobreviver.
Estamos vivendo graças ao petróleo e consumimos mais recursos do que a terra produz. É uma contagem regressiva. Quando ficarmos sem o combustível, será um desastre para o mundo tecnológico que temos.
As pessoas que chamamos primitivas como os índios têm uma maneira de tratar a natureza que não vem do sentido utilitário. Na ecologia, na economia e em outras coisas, temos dispensado a consciência e trabalhado apenas com argumentos racionais que estão nos levando ao desastre. A crise ecológica só pode ser interrompida com uma mudança pelo coração, com a verdadeira transformação que só um processo educativo pode dar. Com isto, eu não tenho muita fé nas terapias ou religiões. Só uma educação holística poderia evitar a deterioração da mente e do planeta.
- Poderiamos dizer que você encontrou um equilíbrio em sua vida nesse momento?
-Eu diria que mais e mais, apesar de eu não ter terminado a jornada. Eu sou uma pessoa com muita satisfação, a satisfação de ajudar o mundo que estou. Vivo feliz, se é que se pode ser feliz nesta situação trágica em que todos nós estamos.
-A partir de sua experiência, da sua carreira e sua maturidade, como você processa a questão da morte?
-Em todas as tradições espirituais são aconselhados a viver com a morte ao lado. Você tem que chegar a essa evidência de que somos mortais e que levar a morte a sério não será tão vaidoso. Não tens tanto medo das coisas pequenas, quando tens uma coisa grande que te preocupas mais. Acredito que a morte só é superada para aqueles que de alguma forma morrem antes de morrer. Um tem que morrer para a parte mortal, para a parte que não transcende. Aqueles que tem tempo e suficiente dedicação e que vão suficientemente longe nesta viagem interior, finalmente encontram seu verdadeiro eu. E este ser interior ou este ser que é um, é algo que não tem tempo e que dá a uma pessoa uma certa paz ou um sentimento de invulnerabilidade. Estamos tão absortos em nossas vidas diárias, em nossos pensamentos de alegria, tristeza, etc … Nós não estamos em nós, não temos conhecimento de quem somos. Para isso, precisamos estar muito sintonizados com a nossa experiência de tempo. Esta é a condição humana, estamos vivendo no passado e no futuro, é o aspecto horizontal de nossas vidas. Mas desatentos para a dimensão vertical da nossa vida, para o aspecto mais alto e mais profundo, e este é nosso espírito e nosso ser e a chave para o acesso é o aqui e o agora.
Às vezes a gente vai estar em busca do ‘Ser’ e às vezes ficamos confusos em busca de outras coisas menos importantes, como a  glória.

sábado, 11 de abril de 2015

Cultura e dignidade do povo brasileiro

10.4.2015 - 19:40  
      
A criatividade do povo brasileiro é nosso maior patrimônio. Uma das mais importantes demonstrações da força dessa capacidade criativa ainda é desconhecida e ignorada pelo grande público e pela mídia: são dezenas de milhares de grupos culturais espalhados por todo o Brasil, vivenciando a arte e a cultura como instrumentos de qualificação das relações humanas e produzindo vivências de cidadania. São grupos que se organizaram em torno da capoeira, do teatro, da dança, da música, do cinema e do audiovisual, do Hip Hop e de manifestações tradicionais, entre outras, que com essas ações culturais fortalecem um sentimento de pertencimento e senso crítico em relação às mazelas sociais vigentes. A partir dessas atividades, o encantado mundo da cultura e das artes vem fortalecendo a noção de direitos para quem nunca os teve.
Se quisermos definir um território conceitual para essas experiências socioculturais tão diversas entre si, podemos ancorá-las no vasto território da arte-educação. Desde os anos 60, a arte-educação foi incluída como atividade curricular nas escolas brasileiras, mas sabemos como pouco avançamos no uso da cultura e da arte como instrumento pedagógico em nossas instituições de ensino.
Nas últimas décadas, a presença da arte e da cultura foi minguando nas salas de aulas brasileiras, assim empobrecendo o ambiente das nossas escolas. Enquanto isso, nas periferias e bairros pobres das cidades, na área rural, nas aldeias indígenas e nas mais diversas comunidades, a cultura e as artes tornaram-se valiosos instrumentos de inclusão e de qualidade de vida para essas populações. Estamos falando de alegria, sensibilidade e dignidade em meio a pobreza e a violência, luz no fundo do túnel dantesco do cotidiano das massas populares.
Para compensar a ausência do Estado e de suas políticas públicas, comunidades e movimentos sociais têm adotado a cultura como estratégia para a construção de empoderamento e protagonismo, como importante meio de recuperação da autoestima de grupos humanos com acesso restrito a direitos e oportunidades, e como instrumento e coesão social. A sociedade civil vem desenvolvendo essa tecnologia social em meio às dificuldades mais radicais e apesar da indiferença do Estado brasileiro.
Ainda que ocorram nos quatro cantos do Brasil, essas experiências geraram poucos contatos entre si. Mesmo guardando grande diversidade na base conceitual, metodológica e no objeto de trabalho, já são reconhecidas por instituições internacionais como uma tecnologia social poderosa e eficiente. Vários desses projetos já foram convocados para treinar governos de países africanos, e mesmo algumas prefeituras europeias, no trato com populações de rua ou em alguma outra situação de risco.
Essa trajetória vitoriosa foi construída a duras penas pelas comunidades e suas associações, por organizações não governamentais, igrejas - principalmente as pastorais católicas - , sindicatos, militares, intelectuais e artistas orgânicos dos movimentos sociais, mães de santo, mestres de capoeira - ou de alguma outra arte - e empresários mais conscientes. Até o governo Lula, o Estado contribuía muito pouco, como que houvesse renunciado a cumprir sua missão constitucional de formulador e executor de uma política capaz de promover o desenvolvimento cultural da sociedade brasileira.
Apesar de termos atingindo, nos últimos anos, altos índices de universalização de acesso à escola, sabemos que não será possível fundar uma pátria educadora se não incorporarmos a arte e a cultura no processo pedagógico. A missão do Estado na educação não pode se resumir a preparar as novas gerações para o mundo do trabalho. Nos últimos doze anos, apesar de todas as dificuldades, o Estado retomou seu lugar e seu papel na vida cultural brasileira.
Buscamos satisfazer demandas e necessidades da sociedade através de políticas públicas. Tratamos de recolocar a cultura como direito de todos os brasileiros e como política pública estratégica de governo para que o Brasil possa enfrentar os desafios desse início de século XXI. Também como uma economia poderosa, geradora de ocupação e renda.
É nesse contexto que surge o Cultura Viva. Para estimular os processos e as manifestações culturais em todo Brasil. Com esta lei, tornamos de Estado uma política que até então havia sido de governo, reiteramos o reconhecimento de riqueza da cultura, do saber e do fazer produzidos pela sociedade. Cultura como dimensão estruturante de toda a existência humana, acessível a todos.
Indicador de qualidade de vida. A Lei Cultura Viva grava a importância para o desenvolvimento cultural do povo brasileiro de uma gama enorme de experiências, manifestações, projetos e ações que acontecem pelo Brasil afora e que adquiriram significados que vão além do fazer cultural: práticas efetivas, ações, ao mesmo tempo culturais, políticas, sociais e estéticas superam o discurso sobre direitos e deveres. Cultura e dignidade humana como direito de todos os brasileiros, sem limites, nem fronteiras é isso o que representa o Cultura Viva. Viva a cultura e a arte do povo brasileiro.
Juca Ferreira
Ministro da Cultura 
                    

domingo, 5 de abril de 2015

Finlândia: o primeiro país do mundo a abolir a divisão do conteúdo escolar em matérias


Por Canal da Educação março 25, 2015 15:44
Finlândia: o primeiro país do mundo a abolir a divisão do conteúdo escolar em matérias
Por Renato Carvalho, do Rescola
A campainha toca, mas, em vez da aula de História, começa a aula de “Primeira Guerra Mundial”, planejada em conjunto pelos professores especialistas em História, Geografia, Línguas Estrangeiras e (por que não?) pelo professor de Física que achou que seria uma boa oportunidade para trabalhar os conceitos de Balística.
À tarde, outro sinal, mas os alunos não vão ter aula de Biologia. Hoje a aula é sobre “Ecossistema Polar Ártico”, ministrada pelos professores especializados em Biologia, Química, Geografia e o de Matemática, que percebeu que os dados sobre o derretimento das geleiras seriam úteis para o estudo de Estatística.
Em pouco tempo, cenários como esse, que já são comuns nas principais escolas da capital Helsinki, poderão ser encontrados em toda a rede de ensino do município e nas cidades do interior. O objetivo é claro:
A Finlândia quer ser o primeiro país do mundo a abolir completamente a tradicional divisão do conteúdo escolar em “Matérias” e adotar em todas as suas escolas o ensino por “Tópicos” multidisciplinares (ou “Fenômenos”, conforme a terminologia adotada pelos educadores finlandeses).
Há anos, a educação finlandesa vem sendo considerada a melhor do mundo. Com “segredos” como valorização dos professores, atenção especial aos alunos com mais dificuldades, valorização das artes e de diferentes formas de aprendizagem e uma radical redução no número de provas e testes, o país tem consistentemente dividido as mais altas posições nos rankings do PISA (Programme for International Student Assessment, ou Programa para Avaliação Internacional de Estudantes) com Cingapura, mas com as vantagens de oferecer uma educação universalmente gratuita e livre dos tremendos níveis de estresse aos quais os estudantes asiáticos são submetidos.
Apesar dos excelentes resultados (ou talvez por causa deles), a Finlândia pretende continuar repensando e aprimorando seu sistema educacional. “Não é apenas Helsinki, mas toda a Finlândia que irá abraçar a mudança”, afirma Marjo Kyllonen, gerente educacional de Helsinki. “Nós realmente precisamos repensar a educação e reprojetar nosso sistema, para que ele prepare nossas crianças para o futuro com as competências que são necessárias para o hoje e o amanhã. Nós ainda temos escolas ensinando à moda antiga, que foi proveitosa no início dos anos 1900 – mas as necessidades não são mais as mesmas e nós precisamos de algo adequado ao Século 21.”
Naturalmente, a ideia de substituir “Matérias” por “Fenômenos” como forma de dividir o conteúdo escolar e apresentá-lo aos alunos sofreu resistência inicial, principalmente dos professores e diretores que passaram suas vidas se especializando e se preparando para ensinar matérias. Mas com suporte do governo – inclusive incentivos financeiros através de bonificações para os professores que aderissem ao método – os professores foram gradualmente se envolvendo e hoje aproximadamente 70% dos professores das escolas de ensino médio da capital já estão treinados e adotando essa nova abordagem.
Atualmente, as escolas finlandesas já são obrigadas a oferecer ao menos um período de ensino multidisciplinar baseado em Fenômenos por ano. Na capital Helsinki, a reforma está sendo conduzida de forma mais acelerada, com as escolas sendo encorajadas a oferecer dois períodos. A previsão de Marjo Kyllonen é de que em 2020 a transição estará completa em todas as escolas do país.
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Para além do ‘na Finlândia é fácil, quero ver no Brasil’

Por Canal da Educação março 27, 2015 01:19
Para além do ‘na Finlândia é fácil, quero ver no Brasil’
Notícia de que país nórdico quer acabar com disciplinas traz desconfiança, mas também deixa pulga atrás da orelha: ‘será que dá?’
Por Patrícia Gomes, no Porvir
No meu feed de notícias do Facebook nesta semana uma aspa em particular me chamou a atenção. Uma educadora dizia: “Existem escolas que estão ensinando do jeito tradicional, o que até era uma coisa vantajosa no início dos anos 1900. Mas agora não podemos mais fazer isso. Precisamos de algo compatível com o século 21”.
OK, preocupação justa, honesta, que a gente tem visto com alguma frequência no Brasil, principalmente entre pessoas empenhadas em melhorar a educação pública. Mas espera. Quem disse não foi alguém que está tentando repensar algum sistema educacional cambaleante. Era Marjo Kyllonen, secretária de educação de Helsinque, ao comentar no britânico The Independent a grande notícia da semana para quem se interessa por educação: a Finlândia vai, a partir de 2016, começar a trocar as disciplinas tradicionais por projetos interdisciplinares (leia entrevista com Marjo Kyllonen no Porvir). Segundo ela, escolas finlandesas precisam preparar melhor os alunos para os desafios que encontrarão na vida.
Então quer dizer que a Finlândia, que já tem um dos melhores sistemas educacionais do mundo, também está procurando novas soluções para suas salas de aula? Sim, está. Só para dar um contexto melhor sobre o que estamos falando: a Finlândia é dos países que mais consistentemente aparecem no topo do Pisa, exame internacional que mede o quanto alunos de 15 anos sabem matemática, ciências e língua materna. Lá, a educação é pública, não há grandes diferenças na qualidade do ensino entre escolas e os professores têm autonomia para escolher o que vão ensinar.
Aliás, lecionar é um dos ofícios mais prestigiados no país – Pasi Sahlberg, educador finlandês, professor visitante de Harvard e autor do livro “Finnish Lessons 2.0”, fala mais sobre o que é ser professor na Finlândia em seu blog. O resultado dessa mistura é um país que tem se destacado nas áreas de tecnologia e inovação, tem uma economia sólida e os menores índices de corrupção do planeta.
Bom, acontece que aqui pelos Estados Unidos a notícia também ganhou repercussão. Depois da matéria inicial do The Independent, publicações como QuartzWashington PostHuffington Post e Vox puseram suas respectivas colheres na discussão, uns com mais, outros com menos pé atrás. “Será que substituir aulas tradicionais por projetos interdisciplinares vai ensinar ao aluno tudo o que ele precisa saber? Será que essa abordagem é possível nos EUA?” foram algumas das questões levantadas. Para dar um contexto, os norte-americanos estão na fase final de implementação do Common Core, um currículo nacional para matemática e inglês fruto de um debate que durou anos, e aguardam ansiosos pelos primeiros resultados dos alunos.
O problema é que as notícias davam a entender que a Finlândia ia trocar todas as disciplinas por projetos de um dia para o outro. Mas não é bem assim e o Ministério da Educação finlandês fez questão de esclarecer isso. Mesmo antes de a substituição aulas tradicionais por projetos interdiciplinares fazer parte de um programa maior, o país já adotava a abordagem de projetos há décadas ao menos uma vez por semana. A partir de 2016, um cronograma de adoção vai ser adotado para que essa quantidade aumente, mas as disciplinas continuarão a existir.
Pelo aprendizado baseado em projetos, professores de diferentes disciplinas desenham juntos atividades com claros objetivos pedagógicos e as situações de aprendizado ocorrem ao longo do processo. Entre ter a ideia, desenhar, prototipar e apresentar o produto final, os alunos aprendem os conteúdos programáticos relacionados e intencionalmente abordados pelos professores, mas também têm que agir em colaboração, com criatividade e resiliência.
É claro que ter uma grade curricular inteiramente baseada em projetos é algo muito distante da realidade brasileira. Mas a adoção parcial, quem sabe em um dia na semana, pode ser um começo. Paulo Blikstein, professor assistente em Stanford e estudioso do aprendizado baseado em projetos, me disse há um tempo e eu nunca esqueci: não tem mal nenhum em abrir mão de um pouco de conteúdo para dar espaço a momentos de aprendizagem realmente profundos. Na vida real, é isso que vai fazer diferença. Fiquemos com a pulga atrás da orelha.