Blog PRODUÇÃO CULTURAL NAS ESCOLAS, destinado a divulgação e reflexão sobre iniciativas culturais de estudantes e/ou educadores que atuam em escolas,ONGs, coletivos de cultura e comunicação e movimentos populares.
Gravação original - Jair Rodrigues
Compositor: Compositores: Geraldo Vandré e Théo de Barros
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Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a
dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora de lugar, eu vivo prá consertar
Na boiada
já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu, ou de que comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro
muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um Rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não
pude seguir, valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você
não concordar, não posso me desculpar
Não canto prá enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar
Na boiada
já fui boi, boiadeiro já fui Rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu
Mas o
mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei
Na boiada
já fui boi, boiadeiro já fui Rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu,
Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu
Mas o
mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei.
Músicas de Chico Buarque ajudam a estudar o período da ditadura
As canções de Chico Buarque podem ajudar os estudantes a compreender o período da ditadura militar no Brasil. Via Portal Terra
Neste ano, faz quatro décadas do lançamento do disco Construção,
de Chico Buarque. Em meio a um dos períodos mais duros do regime
militar, o álbum ficou famoso por consolidar a posição crítica do
compositor, seja com músicas claramente referentes à repressão daqueles
anos, como Cordão, ou outras com associações mais implícitas, como Cotidiano.
Segundo o professor de Literatura da unidade Tamandaré do Anglo,
Fernando Marcílio, antes deste quinto disco, o autor já vinha
manifestando suas preferências políticas e incomodando a censura. “O
mais importante é destacar que as canções de Chico vão além da questão
da ditadura. Mesmo aquelas letras que se referem explicitamente ao
regime militar”, diz o mestre em Teoria Literária, cuja dissertação
analisou a obra do artista.
Nessa linha, as letras daquela época podem ser facilmente transpostas
para a atualidade. “Elas captam o essencial da ditadura, a repressão, e
devem ser usadas para compreender não só aquele episódio, mas as
relações humanas. Eu posso ser opressor com minha esposa, seu chefe pode
ser com você, assim como muitas pessoas o são com os homossexuais”,
cita. Para o professor, Chico Buarque não deve ser reduzido à imagem de
“cantor da ditadura”. “Já ouvi dizer que, se não fosse a ditadura, Chico
não teria inspiração, que teria sido bom para ele. Longe disso, a
censura o impediu de trabalhar muitas vezes”, comenta.
Mesmo ainda atuais, as músicas e peças de teatro do autor carioca
podem ajudar estudantes a entender melhor o que significou o período que
sucedeu o golpe de 64. A seguir, conheça mais sobre o contexto de dez
obras de Chico Buarque.
Apesar de você
Para o professor, a mais evidentemente canção de Chico Buarque referente à ditadura é Apesar de você.
Lançada inicialmente em 1970, em um compacto, foi censurada logo
depois. Entendida inicialmente como uma canção de amor, como se um dos
amantes tivesse abandonado o outro (“Apesar de você / Amanhã a de ser
outro dia”), na realidade, a letra falava da ideia de um novo amanhã,
que superasse os dias escuros da ditadura (“A minha gente hoje anda /
Falando de lado / E olhando pro chão, viu / Você que inventou esse
estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão”).
A música marca o momento em que a censura começa a ficar mais atenta à
obra de Chico. “Esta letra tem uma dimensão utópica, sentimento que
aparece em outras canções do autor”, explica o professor. Em 1978, no
álbum Chico Buarque, a música, já liberada, foi lançada outra vez.
“Chico a relançou meio a contragosto. Estava preocupado que fosse
passada a imagem de que estava tudo bem, o que não era verdade. Além de
não fazer mais sentido lançar uma música fora do contexto em que foi
escrita”, observa.
Cálice
Mais uma música censurada. Mas, diferentemente de Apesar de você, Cálice
foi proibida antes de ser lançada. Composta em 1973, ao ser submetida à
censura federal, pela qual deviam passar todas as letras, livros e
textos e montagens de teatro, foi barrada e só pode ser divulgada em
1978, também no álbum Chico Buarque. “Gilberto Gil teve a ideia
de usar a passagem bíblica, mas foi Chico quem percebeu que a
sonoridade que se igualava à expressão ‘cale-se’, uma referência clara à
censura da época”, conta Marcílio.
O fato de submeter toda produção artística à censura representava, no
caso das obras barradas, um investimento jogado fora, especialmente
para peças de teatro, que tinham que apresentar suas montagens completas
a um homem do governo.
Construção e Cotidiano
Essas duas canções fazem parte do álbum Construção, de 1971,
e suas letras tem referências menos diretas à ditadura militar. A
primeira conta a história de um trabalhador da construção civil que
morre no local onde trabalhava. “A situação desse trabalhador é de
angústia, ele é oprimido pela ditadura econômica, que também assolava o
país na época”, explica o professor.
Na segunda, diz Marcílio, “a letra descreve o dia a dia de um casal,
em uma referência implícita à repressão do governo, à medida que mostra
um cotidiano opressivo”.
Cordão e Quando o Carnaval chegar
Cordão é uma canção do disco Construção com referência clara à ditadura, especialmente em versos como “Ninguém vai me segurar / Ninguém há de me fechar”. Assim como Apesar de você,
tem o caráter otimista de um futuro melhor. “Nesta música, Chico prega a
resistência, por intermédio da união, do ‘imenso cordão’ que ele cita
na letra”, observa o professor. O mesmo anseio por dias melhores aparece
em Quando o Carnaval chegar, música trilha do filme homônimo
em que Chico atua. “Aqui também há referência a esse dia de amanhã, um
dia em que a liberdade seria restaurada e triunfaria”, diz o professor.
Deus lhe pague
Em Deus lhe Pague, também do álbum Construção,
Chico se vale da ironia para criticar a situação repressiva em que os
brasileiros viviam durante o regime militar. É como se ele agradecesse
ao governo por permitir ao cidadão realizar atos básicos, como respirar.
“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir / A certidão pra
nascer e a concessão pra sorrir / Por me deixar respirar, por me deixar
existir / Deus lhe pague” são alguns dos versos.
O heteronômio Julinho de Adelaide
Já conhecido da censura, Chico Buarque tinha suas músicas proibidas
só por levarem sua assinatura. Para driblar isso, ele criou um
personagem, Julinho Adelaide, que assinou três músicas suas. Em Acorda amor,
um sujeito acorda no meio da noite e pede para sua mulher chamar o
ladrão porque a polícia tinha chegado. “Ele inverte a situação, porque o
perigo naquela época era a polícia entrar em sua casa e lhe prender”,
explica o professor de Literatura, também historiador. Trata-se de mais
uma manifestação da ditadura, a perseguição policial.
Em Jorge Maravilha, há referência a situações que, segundo o
professor, não se sabe se são verdadeiras ou não. Os versos “você não
gosta de mim, mas sua filha gosta” teriam origem em uma das vezes em que
Chico foi preso e o policial teria pedido autógrafo, dizendo que era
para a sua filha. “Tem também a história de que a filha do então
presidente Ernesto Geisel teria declarado ser apreciadora de Chico. Não
sei dizer se é verdade, acho que a questão é mais simbólica, como quem
diz ‘você, governo, não gosta de mim, mas o povo gosta’”, opina.
Calabar: O elogio da traição
Esta peça de teatro de autoria de Chico e Ruy Guerra foi proibida
pela censura. O título cita um personagem histórico que existiu durante o
Brasil Imperial e que ficou tachado como traidor por ter se oposto à
coroa portuguesa. “O personagem nem aparece na peça, que acaba girando
em torno de opções ideológicas e discutindo o que é ser patriota por
meio do questionamento desta traição. Calabar só poderia ser considerado
traidor sob o ponto de vista de Portugal, que era, por sua vez, um
invasor. Ou seja, trair um invasor não seria um problema, assim como
trair um governo que é opressor”, compara o professor.
Na época, os jornais não podiam nem noticiar a censura da peça. As
músicas da trilha liberadas foram lançadas em um álbum chamado Chico canta. Era pra ser Chico canta Calabar, mas o nome do personagem histórico também havia sido proibido.
Você
professor de Língua
Portuguesa/Literatura
amante de Chico Buarque, que tal “apresentá-lo” a seus alunos em
sala de aula?
Pensando
nessa possibilidade de ação metodológica é que a professora
Tereza Telles publicou “Chico
Buarque na sala de aula: Leitura, interpretação e produção de
textos” (Editora
Vozes, 2009). O livro é uma ótima sugestão para se trabalhar o
texto literário a partir de canções (poemas) de Chico Buarque.
Pode ser trabalhado tanto com as séries finais do ensino
fundamental, como também, de todo o ensino médio.
Constituída
de cinco capítulos, a obra estrutura-se de forma bem didática. No
capítulo I: O
curso do tempo e a fragilidade da condição humana,
“aliam-se a presença de um tema: a força inexorável da passagem
do tempo e a impotência do ser humano diante dessa força”. Telles
apresenta o poema abordando seu aspecto formal escalonando-o. Em
seguida sugere um trabalho a ser trabalhado em sala de aula.
O
capítulo II: O
poema e as circunstâncias de sua composição.
Aqui, a autora enfatiza a relação do momento da produção do poema
com o momento histórico vivido. No caso o Brasil da Ditadura Militar
(1970).
Já
no capítulo III: A
narrativa em verso,
a autora trabalha os poemas atribuindo-lhes a classificação de
prosa literária narrativa. Assim, é estudada toda a estrutura que
compõem o gênero narrativo: foco narrativo, ação, espaço,
personagens, tempo. Além de enfatizar o papel social da literatura.
No
capítulo IV: A
intertextualidade,
Tereza Telles apresenta poema de Chico Buarque que podem ser
classificados como paródicos. Exemplo é a analogia entre os poemas
Meus
oito anos,
de Casimiro de Abreu X Doze
anos,
de Chico Buarque.
O
último capítulo: Fundamentos
teóricos. Relembra
para alguns ou informa para outros, os conceitos teóricos que
fundamentam qualquer prática. Assim, você caro professor, que há
muitos anos deixou a cadeira da academia e que não se lembra
daqueles conceitos de literatura que talvez você tenha pensado de
que nada lhe serviria, este capítulo traz os principais conceitos
teóricos literários e que lhe darão toda a firmeza na hora da
explicação.
Objetivos
- Entender as transformações da música popular no Brasil após 1964,
destacando tanto o período da ditadura militar (até 1985), quanto o
período posterior, marcado pela redemocratização do país.
- Apresentar a trajetória musical do compositor Chico Buarque.
- Identificar os traços marcantes da produção musical atual no Brasil.
Conteúdos
- Análise social da música de Chico Buarque na época da ditadura militar.
- Análise social da música de Chico Buarque após o fim da ditadura militar no contexto da redemocratização do país.
- Transformações da canção e da música popular no Brasil.
- Relações entre música popular, política e sociedade.
Tempo estimado
Três aulas
Materiais necessários
Cópias da reportagem "Chico versus Chico" (BRAVO!, Ed. 168, agosto de 2011) e das letras das canções "Apesar de você" e "Sonho de um Carnaval" (que podem ser encontradas em http://abr.io/chico) para todos os alunos; computador ou notebook; letra da canção "Rubato", do CD "Chico" que pode ser lida e ouvida em http://abr.io/chico2.
Introdução
Chico Buarque é um expoente da música popular brasileira desde meados
da década de 1960. Sua produção musical é bastante variada e celebrada
tanto pela crítica especializada, quanto por seus ouvintes. Durante a
ditadura militar (1964-1985), suas canções ganharam notoriedade pela
irreverência astuta em relação às arbitrariedades da censura e pela
tenacidade com que o compositor denunciou e combateu a truculência do
governo militar. Nesse sentido, sua música é considerada "engajada".
Toda
essa notoriedade ainda foi reforçada pelo fato de Chico também
apresentar, em muitas de suas composições, um lirismo e uma linguagem
coloquial não distantes da poesia modernista. Com aguçada sensibilidade,
e para além das canções de cunho político, ele cantou as nuances do
amor e do desamor e manifestou uma sensibilidade especial em relação ao
mundo feminino.
As características de sua produção musical
fizeram de Chico um compositor querido por seu público. Essa boa
relação, no entanto, parece agora ter experimentado certo abalo devido
ao lançamento do álbum "Chico", que se afasta dos temas políticos,
marcantes em sua trajetória.
Com base neste plano de aula e na
reportagem da revista BRAVO! discuta com os alunos que mudanças na
sociedade brasileira e na trajetória artística do compositor podem tê-lo
levado a buscar novos rumos para as suas canções.
Desenvolvimento 1ª AULA - Música popular para falar da sociedade em diferentes épocas
Conte
aos alunos que essa aula será dedicada a refletir sobre alguns períodos
da história política do Brasil, com base na nossa música popular.
Comece perguntando para os estudantes o que eles sabem sobre a história
da música popular brasileira: quando e onde ela surgiu? Anote as
opiniões no quadro e explique à turma que a música popular no Brasil tem
uma história que atravessa boa parte do século 20. Observe que, até a
década de 1930, a autoria das canções não era algo tão importante. Nesse
período, boa parte dos nossos choros e maxixes era instrumental,
cantada coletivamente e composta anonimamente.
Mostre aos alunos
que essa situação mudou radicalmente com a estatização da Rádio Nacional
em 1940, patrocinada por Getúlio Vargas durante a ditadura do Estado
Novo (1937-1945), e com a criação das primeiras indústrias fonográficas
no país, no mesmo período. Essas mudanças estimularam o fim da criação
musical anônima, já que os artistas passaram a gravar discos e a se
apresentar ao vivo nas emissoras de rádio.
Foi nessa época que o
samba ganhou força. Ele introduziu a noção de autoria e ajudou a
consagrar a imagem do "artista popular" no Brasil. Além disso, e por
influência de Getúlio Vargas, que induziu sambistas como Wilson Batista e
Ataulfo Alves a escreverem sambas para o "trabalhador" e não para a
"malandragem", o gênero contribuiu para promover certa integração
favorável ao regime do Estado Novo, estabelecendo uma "identidade
nacional", uma relação de pertencimento do cidadão à nação.
Um
exemplo notório dessa influência está na canção "O Bonde São Januário",
cujos versos originais diziam "O Bonde São Januário, leva mais um sócio
otário, eu que não vou trabalhar" (um contexto típico da malandragem). A
pedido de Getúlio, a letra foi modificada para "O Bonde São Januário,
leva mais um operário, sou eu que vou trabalhar", em prol da moral da
família e do trabalhador (veja a letra e mostre um vídeo da canção para
os alunos, disponível em http://abr.io/bonde).
Em
seguida, passe a outro período da política recente de nosso país. Se
Vargas influenciou as letras, mas fortaleceu o samba e os artistas
populares, a ditadura militar, que começou em 1964, adotou a política de
repressão a artistas e movimentos populares. Mesmo assim, muitos
setores da população - além dos sindicatos e dos estudantes - começaram a
exigir maior justiça social e a se mobilizar politicamente.
Questione
a turma sobre a música brasileira no período da ditadura militar: eles
conhecem os principais artistas desse período? É provável que os alunos
digam nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Caso o
nome de Chico não seja citado, indague: "e Chico Buarque?".
Distribua
cópias da reportagem de BRAVO! e leia com os alunos. Conte aos jovens
que Chico é filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e iniciou
sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando venceu,
com a canção "A Banda", o Festival de Música Popular Brasileira da TV
Record, um programa de grande apelo popular.
Explique também que,
durante a ditadura, a MPB assumiu a tarefa de divulgar e difundir as
aspirações populares, tornando-se fortemente ideologizada. Nesse
contexto, passou a ser comum ouvir canções que defendiam a reforma
agrária e a luta contra os privilégios sociais. Em 1969, com a crescente
repressão e a instituição do Ato Institucional nº 5 (1968), que
intensificou a censura e a perseguição a artistas e intelectuais, Chico
Buarque se exilou na Itália e continuou a compor canções de engajamento,
tornando-se, ao retornar, um dos artistas mais ativos na crítica
política e um dos mais envolvidos na luta pela democratização no Brasil.
Para exemplificar, distribua as cópias a letra da canção "Sonho de um Carnaval" para os alunos: Sonho de um Carnaval (Chico Buarque)
Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano
Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano
Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade
No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança
Peça que os estudantes leiam e interpretem o significado desses versos.
Aproveite as respostas dos alunos e chame a atenção para o fato de que
eles remetem à ideia de povo unido e de esperança na revolução popular,
simbolizada pela palavra "Carnaval". Mostre que Chico Buarque, em suas
músicas de protesto, tematiza claramente os anseios políticos populares e
denuncia a vida miserável do trabalhador explorado. Destaque que isso
criou uma recepção positiva de suas músicas junto ao público.
Para terminar essa aula, solicite aos alunos que pesquisem na internet, no site oficial http://www.chicobuarque.com.br/,
outras músicas do compositor elaboradas nesse período, para que
verifiquem a constância das canções de engajamento durante os anos 1960 e
1970.
2ª AULA - Chico Buarque e os anos de chumbo
Para
começar, peça que os alunos contem apresentem as músicas que
encontraram e pergunte quais são os principais temas abordados nas
canções de Chico Buarque: os temas são recorrentes? Adiante que uma das
principais canções desse período será analisada nesta aula.
Antes
de mostrar os vídeos e letras das composições, aprofunde a questão da
censura intensa com a instituição do AI-5 (mencionado na primeira aula
desta sequência). Explique que o ato dos militares, promulgado em
dezembro de 1968, tinha como objetivo por fim à movimentação e à
agitação política que acontecia no país. Conte aos alunos que o AI-5
impôs o chamado "estado de exceção", que suprimiu a Constituição, a vida
política e os direitos individuais. Essas medidas alteraram a dinâmica
da vida cultural do Brasil, instituindo uma censura brutal a todo tipo
de produção artística.
Com isso, artistas e intelectuais do
período tiveram que encontrar formas criativas de driblar a ação dos
censores. E Chico Buarque foi mestre nisso. Por meio de metáforas e
mensagens irônicas ou subentendidas, as letras de música se tornaram
peças de resistência política. Ao contrário do que ocorreu no Estado
Novo de Vargas, em que os laços entre cidadãos e artistas populares se
deram em um contexto moralizante, estimulado pelo governo, durante o
regime militar foi a luta contra a censura que uniu compositores e o
povo, impedido de manifestar sua voz ativa.
Depois da explicação,
apresente aos alunos um dos exemplos marcantes dessa cumplicidade entre
público e compositor, presente na canção "Apesar de você": Apesar de você (Chico Buarque)
Amanhã vai ser outro dia
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Esse samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
De "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Depois da audição, proponha uma atividade: distribua cópias da letra
dessa música para os estudantes, peça que leiam, analisem e debatam a
composição e identifiquem as passagens e termos que servem para reforçar
a cumplicidade entre autor e público.
Para estimular a turma, indague qual o significado da expressão "apesar de você" e discuta quem pode ser esse "você" na canção.
Antes
de encerrar, solicite como lição de casa a elaboração de um texto
dissertativo sobre as mudanças na música popular brasileira ao longo do
Estado Novo e, posteriormente, no período da ditadura militar, dando
ênfase ao papel combativo de compositores como Chico Buarque. Oriente os
alunos a citar trechos de canções de Chico que ilustrem o engajamento
do artista.
3ª AULA - O fim das ideologias e a música de Chico
Conte
aos alunos que esta aula vai servir para mostrar a produção de Chico
Buarque no contexto de pós-redemocratização do Brasil. Comece explicando
que o fim da ditadura militar, em 1985, trouxe novas transformações
para a música popular produzida por aqui.
O fim da censura e o
início do processo de redemocratização fizeram com que as canções de
protesto não fossem mais necessárias para a "integração do povo" e a
construção de uma "identidade nacional". A partir dos anos 1980, os
produtores culturais passaram a buscar nos padrões da cultura
internacionalizada novos modelos para a produção cultural brasileira.
Comente
também que o contexto histórico-político mudou muito, inclusive fora do
Brasil. O mundo deixou de ser "bipolar" - ou seja, deixou de ter duas
grandes potências mundiais com ideologias diferentes: uma capitalista
(os Estados Unidos) e outra socialista (a então União Soviética).
Explique à turma que, em decorrência desses acontecimentos, muitos
autores afirmam que hoje conhecemos um fenômeno novo, denominado "fim
das ideologias". Questione os alunos, indagando se essa afirmação não é,
ela mesma, uma nova ideologia. Perguntas como: "a ideologia desapareceu
ou a forma como ela se manifesta ganhou novas características?" e
"afinal, a realidade social não se tornou ela mesma mais ideológica?"
podem guiar esta etapa de discussão.
Relembre as composições de
Chico Buarque analisadas nas últimas aulas e fale que as mudanças
históricas ajudam a explicar a trajetória desse artista. Afinal, se as
ideologias parecem ter se tornado difusas, e se não há mais um inimigo
explícito e comum que a música possa combater, o que resta para o
compositor em uma época em que a própria música popular parece não ter
lugar?
Questione se o público de Chico Buarque é composto
maciçamente por jovens ou se é formado pela geração que foi jovem na
época da ditadura e que hoje tem mais de 40 ou 50 anos. Pergunte,
também, se esse público mudou de padrão estético ou se tem um gosto
estratificado, que permanece o mesmo através dos anos. As respostas são
indicadores importantes de que houve uma mudança na própria natureza da
música popular brasileira - os temas recorrentes, o modo de produção, a
forma como os artistas se apresentam (sem a força do rádio ou dos
grandes festivais de televisão e com a ascensão da internet, a produção e
a distribuição musicais aparecem muito mais disseminadas pela rede).
Em
seguida, insinue aos alunos que a música recente de Chico Buarque ainda
pode ser considerada uma forma de resistência: não à ditadura militar,
certamente, mas contra a diluição da tradição cultural do nosso país.
Antes de perguntar aos alunos se eles concordam com essa afirmação,
apresente a letra da canção "Rubato", do mais recente álbum do
compositor, intitulado "Chico":
Rubato (Chico Buarque/ Jorge Helder)
Aurora, eu fiz agora
Venha, Aurora, ouvir agora
A nossa música
Depressa, antes que um outro compositor
Me roube e toque e troque as notas no song book
E estrague tudo e exponha na televisão
O nosso amor
A nossa íntima canção
Os nossos segredos escancarados
Nos trinados de um ladrão
Que vai cantando sem pudor
A minha última canção
Venha, meu amor, venha ouvir, Aurora
A nossa música
Mas só se for agora
Venha ouvir sem mais demora
A nossa música
Que estou roubando de outro compositor
E já retoco os versos com maior talento
Dou um polimento e exponho na televisão
O nosso amor
A nossa íntima canção
As nossas mais tórridas confidências
Para audiências mundo afora
E vai lançar seu nome, Amora
A minha última canção
Venha, meu amor, venha ouvir, Amora
A nossa música
O nosso amor
A nossa íntima canção
Com nossos segredos, os mais picantes
Nos rompantes de um tenor
Que vai cantando com tremor
A minha última canção
Venha, meu amor, venha ouvir, Teodora
A nossa música
Para encerrar a aula, analise com a turma a letra da música, buscando
identificar as passagens ou os termos que indiquem a crítica ao presente
e à situação atual da própria música popular brasileira. Organize um
debate final para saber o que os alunos pensam sobre a atual produção
musical brasileira, fazendo a devida relação com a ideia de "fim das
ideologias", trabalhada no início desta aula.
Avaliação
Observe se as dissertações apresentadas possuem elementos que
demonstrem que os alunos entenderam as principais ideias expostas
durante as aulas. Com base na participação dos alunos nas atividades de
pesquisa e de discussão em sala, analise se sabem identificar as
transformações ocorridas com a música popular; se compreenderam a
questão do fim das ideologias e se conseguem relacionar os elementos da
música de Chico Buarque com os contextos da ditadura e da
redemocratização.
Consultoria Débora Cristina de Carvalho
Mestre e doutora em Sociologia pela Unesp-Araraquara, professora da
Universidade Federal de Lavras e autora de livro didático de Sociologia.
Explore as implicações do AI-5 em uma das mais interessantes canções de Chico Buarque.
Ao trabalhar o tema da ditadura militar em sala de aula, muitos
professores destacam o decreto do AI-5 como a mais significativa ação em
favor do fechamento do regime. Em breve análise do documento, podemos
ver que os militares garantiam para si, o direito de prender e perseguir
todos os cidadãos que viessem a ferir os nebulosos princípios de defesa
à segurança nacional. Nesse momento, falar o que se pensa poderia
custar a liberdade e, em alguns, casos, a própria vida.
Caso ache interessante, o professor pode salientar as ações impostas
pelo AI-5 realizando o destaque de alguns artigos que compunham essa
controversa lei. Feita essa primeira observação, é interessante mostrar
aos alunos que o auge da repressão foi marcado pelo emprego da
violência, mas também despertou a inventividade de vários artistas
preocupados em falar sobre os problemas daquela época. Sob tal aspecto,
sugerimos um trabalho com a canção “Acorda amor”, de Chico Buarque.
Antes de executar a música, o professor deve ambientar o aluno à época
em que esta canção foi concebida. Gravada em 1974, a música saiu
assinada por “Julinho da Adelaide”, um pseudônimo empregado por Chico
para que ele não fosse ligado à composição da letra. Além disso, vale
destacar o título do álbum, “Sinal fechado”, que já viria reforçar a
ideia de que a liberdade de expressão encontrava-se imobilizada, como os
carros que param diante de um sinal vermelho.
Feita a leitura e audição da música, peça aos alunos que relatem
oralmente sobre a história contada na letra. Em breves palavras, podemos
ver que a canção retrata sobre a história de um homem que desperta a
mulher e avisa-lhe de uma possível invasão ao seu lar. Nesse contexto,
podemos destacar que a invasão não se trata da ação de um criminoso.
Traçando seu elo com a época autoritária, a personagem diz que “era a
dura, numa muito escura viatura”.
Nesse sentido, podemos ver que a canção remete às ações autoritárias, em
que representantes das forças oficiais invadiam as casas e prendiam as
pessoas sem uma motivação aparente. Seguindo adiante, Chico Buarque
imprime parte para uma bem humorada ironia, ao chamar desesperadamente
pela figura de um ladrão. Afinal de contas, parecia “melhor” ter a casa
assaltada do que ser levado pelas autoridades do regime militar.
Um pouco mais à frente, o marido da canção, admoesta que ele poderia
sumir por “uns meses” ou que fosse “mais de um ano”. A essa altura, a
canção de Chico alerta para os vários desaparecimentos que marcaram a
época e apontavam um dos lados mais sombrios da ditadura. E assim,
aconselhando para que o mesmo não acontecesse à amada, o marido acha
melhor que ela “não discuta à toa, não reclame”. Quem sabe, uma opção
pela submissão imposta pela coerção e a violência.
Terminada a exposição do material trabalhado, os alunos podem
compreender que a canção de Chico Buarque projeta uma situação que foi
vivida por diversas pessoas perseguidas pelo regime militar. Por outro
lado, ressalta o comportamento deste e de vários outros artistas que
viveram as dificuldades dessa época. Caso ache necessário, o professor
pode terminar a aula indicando outras canções que trabalhem temas
semelhantes.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola Projeto Chico Buarque na Escola
Como parte de nosso projeto pedagógico para o ano de 2012, planejamos
explorar com nossos alunos a grandiosa obra de Chico Buarque.
Na verdade a ideia surgiu em meados do ano de 2011, quando em um de
nossos conselhos de classe debatíamos as possibilidades
multidisciplinares contidas na obra.
Já em finais de 2011 conhecemos o livro “Chico Buarque na sala de aula”,
da Tereza Telles, pela Editora Vozes e o material nos incentivou
bastante o trabalho.
Foi gratificante perceber como nossos alunos exploraram os textos
através das diversas disciplinas e o quanto criaram, estimulados pelas
referências e lembranças, muitas trazidas por seus próprios pais e avós.
Assim, decidimos por organizar um sarau em que apresentariam recortes
dos trabalhos do Chico através de diferentes meios. Eles realmente se
empenharam em recriar e reviver a Ópera do Malandro, A História de Lily
Braun, A Cidade Ideal,
Teresinha, Bye Bye Brasil; estudaram a biografia, discutiram, debateram,
falaram de política de história e muitas estórias.
No último dia 29 de junho, tivemos o esperado sarau.